quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Depoimento: a greve docente numa leitura prático-afetiva



Hoje (12/09), anterior a assembleia docente do CFP/UFCG, então voltada às discussões e deliberações sobre os rumos da greve no campus de Cajazeiras-PB, parei, durante o percurso, em um posto de combustível. Durante o tempo de abastecimento, duas pessoas indagaram-me sobre o fim da paralisação. A primeira, um pai de aluno do curso de medicina, perguntou-me qual a minha expectativa frente ao término da greve; alegando que, durante o decorrer da paralisação, aproximadamente 4 meses, assegurara, gratuitamente, as despesas do seu filho na cidade, já que a família reside em Fortaleza. A segunda, o proprietário do posto, argumentou-me que, desde que a greve fora decretada, estava tendo significativos prejuízos com as baixas vendas.

A minha resposta se desenvolveu, agora percebo, a partir de uma leitura prático-afetiva da ocasião, onde argumentei-lhes de forma interrogativa:

Não posso assegurar se a greve acabará hoje no CFP/UFCG, já que envolve uma ampla e profunda discussão sobre a reestruturação da carreira docente, mediada pela diretoria da ADUC, bem como se associa à análise da conjuntura local-nacional e dados oficiais do movimento grevista apresentados pelo ANDES (Sindicato Nacional). Entretanto, em termos financeiros, como os Senhores concebem o fato de eu estar pagando a conta de gasolina, em pleno início do mês, com o “cartão de crédito”? (Enfatizo, a opção não era débito automático e sim crédito!)

Se a discussão diz respeito única e exclusivamente ao financeiro, será que nós professores não temos enfrentado, ao longo dos últimos anos, sérios prejuízos pelas perdas salariais e problemas em qualidade de vida, inclusive de saúde, em face desta política de desvalorização profissional e arrocho salarial?...

Desde o início do ano venho quantificando... as contas de água e energia subiram uma média de 10%, o colégio dos meninos e o aluguel do imóvel em que residimos em Cajazeiras ano a ano aumentam 10%, além dos setores de alimentos, combustíveis, vestuários, entre tantos outros, cujos percentuais sequer sabemo-nos calcular...

Por que esses aumentos não se dão gradativamente, preferencialmente em doses homeopáticas distribuídas em três anos, seguindo a mesma lógica do Acordo apresentado pelo governo federal à categoria docente? (E olha que nem estou me detendo nos critérios de exigências e competências para progressão da carreira, já que a "escalada" é até mais árdua!...)

Não tenho qualquer constrangimento em anunciar que vivo, conjuntamente com a minha família, uma vida modesta, desprovida de excessos. Talvez, bem na contramão dos que idealizam o suposto “glamour” na/da carreira acadêmica... Minhas despesas mais significativas condizem à educação dos nossos filhos em Cajazeiras e com o filho universitário na cidade de Natal. Embora a universidade seja federal (UFRN), as condições para manutenção, como sabidas, não são. Porém, concebo estas ações não como gastos, e sim como "investimento de infraestrutura", segundo um teórico lucidamente elucidou.

E se disponho de certa acessibilidade à arte e à cultura tal realidade se deve, em grande medida, ao fato de o meu esposo, Marcus Vinícius, ser músico, o que me proporciona momentos de apreciação artística e sociabilidades. Da mesma forma, ao fato de ser uma leitora que, ainda não como gostaria, adquire livros. Além de aproveitar as possibilidades de leitura que se colocam acessíveis nas bibliotecas públicas e na internet.


Entretanto, sinto-me privilegiada. Evidentemente, não pelo valor da remuneração! Tampouco por integrar uma greve remunerada, como alguns cientistas políticos vêm alegando por aí!... Mas por entender que as atividades empreendidas pelo professor universitário contribuem para o desenvolvimento qualitativo e processual dos discentes, fato que comprovo pelas suas demonstrações diárias, ao enfatizarem a importância humana, intelectual e social da prática docente nas universidades às suas vidas e experiências, que se traduz nas formas de ensino, pesquisa e extensão.


Hoje, além do caloroso apoio de um expressivo grupo de discentes, na assembléia, à continuidade da greve (precisavam ver, o gesto foi de fato comovente!), ao sair do auditório, tive o prazer de me encontrar com uma das graduandas de pedagogia, Alzenira Cândida Alves, que apresentou recentemente trabalho científico no IV FIPED (Fórum Internacional de Pedagogia). Na conversa, a discente me transmitiu as palavras da Professora-Coordenadora do GT de Currículo, cujo conteúdo parabenizava-me pela qualidade na orientação de três trabalhos desenvolvidos na disciplina Currículo e Escola, cuja teorização e empiria, então materializados sob forma de artigos pelas graduandas e, igualmente, por mim orientados, foram bastante apreciados durante as discussões do GT.


Agora, voltando ao desfecho da greve, torço para que não tenhamos que nos dirigir até a exaustão para podermos deflagrar o seu término. Embora entenda que é preciso certa dose de serenidade para fazer surgirem os resultados das ações em curso.

De uma forma ainda que utópica, creio que os fins da educação dizem respeito à promoção de mais e melhor educação. Assim, a greve, como instrumento de luta e resistência de uma categoria, ainda que não vitoriosa em todos os aspectos, constitui processo de desenvolvimento humano. Se não numa perspectiva do paradigma produtivista/economicista - lógica que alguns burocratas do ensino têm defendido enquanto finalidade da educação contemporânea -, mas no sentido de entendermo-nos capazes de exercer a nossa condição de sujeitos de historicidade, que ultimamente - é importante considerarmos -, encontrava-se adormecida, muito embora trazíamos a compreensão, ainda que latentemente, que a construção do amanhã, incluindo "mais e melhor educação", depende das ações por nós empreendidas no aqui e agora.





  • Texto escrito em 12/09, após assembleia realizada no Centro de Formação de Professores, da Universidade Federal de Campina Grande (CFP/UFCG). Ofereço-o aos Graduandos de Pedagogia, cujas mediações fazem-me almejar e lutar por mais e melhor educação.
  • Fotos: Graduandos de Pedagogia em atividades de aula (CFP/UFCG). Acervo Pessoal, arquivos de celular.

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