Na última semana de setembro ocorreu a estréia poética no “Maria Clara: simplesmente poesia” das poetisas mineiras Úrsula Avner e Maria Paula Alvim[1].
Ambas residem na cidade de Belo Horizonte-MG, terra natal, lugar onde exercem suas atividades profissionais. Além do fato de serem conterrâneas e dedicarem-se à escrita poética, Úrsula Avner e Maria Paula Alvim trabalham na área da saúde e se dedicam também à educação, ministrando aulas e cursos em suas respectivas áreas de atuação.
Poder-se-ia enumerar várias analogias entre as poetisas, já que, além das aproximações citadas, ambas são porta-vozes dos mistérios que permeiam a alma feminina. Porém, para evitar generalizações, convém que as poetisas sejam apresentadas individualmente.
Desse modo, o Novidades & Velharias se reportará, neste artigo, à apreciação da voz poética de Úrsula Avner, que realizou a sua estréia no espaço de poesia feminina "Maria Clara" em 24 de setembro de 2009.
Úrsula Avner e a imensidão do mar
Úrsula Avner é psicóloga, pós-graduada
Na Web, a poetisa difunde as suas escritas em três blogs pessoais, dentre os quais se destaca o blog Sempre poesia. Além da intensa atividade escrita na Blogosfera, a autora possui página individual no Recanto das letras e no Site de poesias. A trajetória literária de Úrsula Avner comporta participações em três edições em livro de antologias poéticas. Ademais, integra o Clube Brasileiro da Língua Portuguesa a convite da professora, poetisa e vice-presidenta da Academia Mineira de Trovas Sílvia de L. Araújo Motta.
Em seu post de estréia[2], no blog Maria Clara, a poetisa apresentou o poema Sobre o mundo de dentro. Texto que se destaca pela fluidez e subjetividade na linguagem e, simultaneamente, pela intensidade na externalização dos anseios pertinentes ao eu-lírico frente aos acontecimentos da vida e/ou às convenções sociais. Desejos de liberdade e plenitude se expandem em versos melódicos, materializando paisagens de sonhos. Leiamos a primeira estrofe:
Quisera esmerilhar
o sono guardado
em nuvens brancas
fazer esguichar do tempo
vontades aprisionadas
balançar as ancas
soltar ao vento
borboletas encarceradas...
É comum a aparição de imagens oníricas nos poemas de Úrsula Avner. Além da imagem da “borboleta”, - que na criação poética ilustra a faculdade de a palavra se transfigurar através da inventividade e acomodação linguística entre signos – a imagem do “mar”, de sua “vastidão” e/ou “amplidão”, é uma metáfora pertinente a muitos de seus escritos. Tal qualidade pode ser vislumbrada em o texto Inundação, onde a poetisa externaliza a amplitude das sensações experienciadas; lançando-se ] mar aberto [ à composição poética:
Aconteceu em mim
algo de infinitude
em breves versos
despejo da alma
inquietude
não pertenço a tempo algum
o espaço que me cerca
não limita o que meu ser carrega
mar aberto
O mar, a amplidão e/ou vastidão do mar compõem metáforas que expressam a imensidão íntima do poeta. Segundo Bachelard (1978), a imensidão é própria ao devaneio tranquilo e expressa os sonhos do ser por meio da solidão interior que a vida cotidiana geralmente refreia:
A imensidão está
As imagens na poesia de Úrsula Avner expressam sonhos sumariamente introspectivos, traduzem intensidade nos sentimentos, nas acepções filosóficas e sensações em sua imensidão íntima. Essa realidade pode ser observada em o poema Amplitude, cujo eu-lírico assegura que:
verso invertido
revela de mim
o que da ferida
sabe o prurido
invento um mar
sem ondas
oceano aberto
do começo ao fim
Assim, além da fluidez e delicadeza na linguagem, da musicalidade pertinente aos versos, do uso de métricas bem definidas e, em outras circunstâncias, de cadências irregulares e livres. A poesia de Úrsula Avner materializa a intensidade da imensidão íntima intrínseca à alma poética e ao devaneio tranquilo; pois conforme elucida Bachelard: “[...] a imensidão íntima é uma intensidade, uma intensidade do ser, a intensidade de um ser que se revela numa vasta perspectiva de imensidão íntima” (idem, 1978, p. 317, grifos do autor).
Em a lira subjetivo-reflexiva e emotivo-sentimental de Úrsula Avner, a imensidão íntima se expande: "mar aberto"...
Notas
[1] O próximo artigo do Novidades & Velharias, escrito por Hercília Fernandes, se desenvolverá a partir da apreciação poética da mineira Maria Paula Alvim.
[2] Na mesma semana de estréia poética no Maria Clara, Úrsula Avner também contribuiu com o quadro Postagem Simplesmente poesia (9), no dia 29 de setembro, apresentando uma crítica literária a partir da poesia de Lya Luft.
Imagens
Mulher na Janela: Salvador Dali.
Úrsula Avner
Referências
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. In: ______. Filosofia do não; O novo espírito científico; A poética do espaço. Trad. Antônio da Costa Leal e Lídia do Vale Santos Leal. São Paulo: Ed. Abril Cultural, p. 181-354, 1978.
______. O direito de sonhar. Trad. José Américo Motta Pessanha et al. São Paulo: DIFEL, 1985.
______. A poética do devaneio. Trad. Antonio de Párdua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1988.