quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Fenômeno Criador na Poesia à Luz de Gaston Bachelard




Hercília Maria Fernandes / UFRN
Antônio Basílio Novaes T. de Menezes / UFRN
RESUMO
O artigo consiste pesquisa exploratória do fenômeno criador na poesia à luz da fenomenologia de Gaston Bachelard. Por meio de uma revisão bibliográfica, mais especificamente do estudo das obras A poética do espaço e A poética do devaneio, busca-se uma compreensão aos pressupostos bachelardianos acerca da imaginação e razão na atividade poética.
Palavras-chave: Gaston Bachelard. Imaginação. Razão.


1 O fenômeno criador

A vida científica de Gaston Bachelard (1884-1962), segundo Pessanha (1982), pode ser compreendida através das duas faces do filósofo: o Bachelard “diurno”, cientista incansável em sua interminável tarefa de clarificar, corrigir conceitos e formular um novo racionalismo: aberto, setorial, dinâmico, militante. E, o Bachelard “noturno”, “inovador da concepção de imaginação, explorador do devaneio, exímio mergulhador nas profundezas abissais da arte, amante da poesia” (PESSANHA, 1985, p. vi).
Em A poética do espaço, o filósofo Gaston Bachelard noturno analisa que para estudar os problemas relacionados à imaginação poética se deve, antes, esquecer o seu saber. Estar aberto a uma fenomenologia da imaginação que se distancia dos preceitos das ciências racionalistas conservadoras. Ou seja, Bachelard aponta que é indispensável para se efetuar uma compreensão das imagens poéticas, o envolvimento direto do pesquisador na relação sujeito-objeto e propõe cortes, rupturas com as teorias e métodos racionalistas que concebem e investigam, artificialmente, o fenômeno poético. Em suas palavras:
Um filósofo que formou todo o seu pensamento ligando-se aos temas fundamentais da filosofia das ciências [...] deve esquecer seu saber, romper com todos os hábitos de pesquisas filosóficas, se quiser estudar os problemas colocados pela imaginação poética. É preciso estar presente, presente à imagem no minuto da imagem: se houver uma filosofia da poesia, essa filosofia deve nascer e renascer no momento em que surgir um verso dominante (BACHELARD, 1978, p. 183).

Para Pessanha, Bachelard demonstrou grande jovialidade espiritual ao longo de sua vida científica, não se deixando prender as ortodoxias das escolas filosóficas. Para Bachelard, a verdade provém da discussão e não da simpatia, por isso formulou o seu inconformismo intelectual que denominou de “filosofia do não”. Para ele, a história das idéias não se faz por continuísmos, mas através de rupturas, revoluções, cortes epistemológicos, por isso revestiu a sua obra de caráter polêmico, fazendo críticas à influência da metafísica tradicional – particularmente a cartesiana – sobre o desenvolvimento da epistemologia. Também não poupou críticas aos principais pensadores do século XX, dentre eles Freud, Bergson e Sartre. Por outro lado, oposto aos sistemas fechados, fez uso bastante pessoal de várias noções: psicanálise, fenomenologia, dialética, materialismo; e, ao mesmo tempo, defende uma nova concepção de racionalismo: aberto, dinâmico, setorial e militante (PESSANHA, apud RODRIGUES, 2005, p. 60).
Bachelard critica, veementemente, a psicanálise freudiana. Para ele, a postura intelectualista de Freud transparece na tendência de interpretar as imagens poéticas, apenas, como símbolos dos recalques oriundos das pulsões sexuais sublimadas. Para o filósofo, ao fazer isso, Freud deixa de investigar o poder em si da imaginação. Igualmente, Bachelard critica Sartre, descobrindo nele a mesma postura intelectualista ao privilegiar o visual e o formal, distanciando-se do material e da manualidade, visto que para Bachelard “as duas grandes funções psíquicas são justamente a imaginação e a vontade” (PESSANHA, 1985, p. xv).
Na tentativa de postular uma metafísica da imaginação, o filósofo busca formular uma teoria em torno de uma ontologia da imagem pura. Levando em conta que “a poesia é, antes de ser uma fenomenologia do espírito, uma fenomenologia da alma” (BACHELARD, 1978, p. 185). Para tanto, não deve ser estudada mediante os pressupostos e métodos da psicologia, nem da psicanálise, visto desconsiderarem a novidade que a imagem poética evoca. Em outras palavras, a poesia não possui passado, não é fruto, exclusivamente, de uma causalidade psíquica provocada pela manifestação de impulsos adormecidos. Outrossim, se constitui um ser distinto com dinamismo próprio; apesar do filósofo considerar que: “pela explosão de uma imagem, o passado longínquo ressoa em ecos e não se vê mais em que profundidade esses ecos vão repercutir e cessar” (BACHELARD, 1978, p. 183).
Assim, para equilibrar a dicotomia entre o passado do poeta e a novidade da imagem poética, Bachelard adentra no universo da “repercussão”. Segundo suas análises, a imagem poética repercutida - que na sua teoria envolve a dimensão fenomenológica também do leitor -, se constitui de uma sonoridade do ser-poeta intersubjetivada no ser-leitor. Isso significa que a comunicação realizada entre o poeta e o leitor guarda, em si mesma, uma significação ontológica, que, para o metafísico, só pode ser compreendida por meio de uma fenomenologia da imaginação. É dentro dessa perspectiva que o filósofo defende a tese de que a imagem poética não pode ser entendida pelas únicas vias da causalidade, visto que:

O poeta não me confia o passado de sua imagem e, no entanto, sua imagem se enraíza em mim [...]. Pode-se, certamente, nas pesquisas psicológicas, dar uma atenção aos métodos psicanalíticos para determinar a personalidade de um poeta [...], mas o ato poético, a imagem súbita, a chama do ser na imaginação escapa a tais indagações. Para esclarecer filosoficamente o problema da imagem poética é preciso voltar a uma fenomenologia da imaginação. [...] no momento em que ela emerge na consciência como um produto direto do coração, da alma, do ser do homem tomado na sua atualidade (BACHELARD, 1978, p. 184, grifo meu).

2 Um método fenomenológico: o devaneio

Em A poética do Devaneio, Bachelard retoma a discussão do estudo da imaginação poética a partir da fenomenologia, onde justifica e ensina o seu método de investigação. Conforme seu entendimento, o método fenomenológico leva o pesquisador a uma comunicação com a consciência criante do poeta, levando-o até as origens da imagem poética: “A exigência fenomenológica com relação às imagens poéticas, aliás, é simples: resume-se em acentuar-lhes a virtude de origem, em apreender o próprio ser de sua originalidade psíquica que é a imaginação” (BACHELARD, 1988, p. 2).
O filósofo retoma a problemática dos impulsos psíquicos manifestos pelo inconsciente, contrapondo-se a idéia de que a poesia se constitui, basicamente, de causalidade e liberação, como justifica a teoria da sublimação das paixões e dos desejos na visão psicanalítica do fenômeno criador mediante abordagem freudiana. Para Bachelard, a imagem poética aparece como um novo ser da linguagem, não podendo ser comparada a uma metáfora comum que serve de instrumento para liberar instintos recalcados. Nesse sentido, o filósofo reflete que a poesia é um dos destinos da palavra, e quando se busca a tomada de consciência da linguagem ao nível dos poemas, atinge-se uma ingenuidade maravilhante capaz de elevar o espírito de modo a tocar o homem da palavra nova, em suas palavras:

Tentando sutilizar a tomada da consciência da linguagem ao nível dos poemas, chegamos à impressão de que tocamos o homem da palavra nova, de uma palavra que não se limita a exprimir idéias ou sensações, mas que tenta ter um futuro. Dir-se-ia que a imagem poética abre um porvir da linguagem (BACHELARD, 1988, p. 3).

Nessa perspectiva, Bachelard analisa que para se participar dessa tomada de consciência criante do poeta, além de despertar, em si mesmo, a ingenuidade maravilhante, é necessário que essa ingenuidade seja sistematizada por meio de uma ação ativa do fenomenólogo, visto que o conduzirá a uma tomada de consciência da imagem poética e da identificação de suas múltiplas variações:

Como a finalidade de toda fenomenologia é a tomada de consciência presente, num tempo de extrema tensão, a tomada de consciência impõe-se a conclusão de que não existe fenomenologia da passividade no que concerne aos caracteres da imaginação (BACHELARD, 1988, p. 4).

Seguindo essa linha analítica, o filósofo Bachelard diurno enfatiza que a ação da fenomenologia deve preceder de uma intencionalidade e vigilância ativa capaz de vivenciar e examinar, cientificamente, os fenômenos, sem, no entanto, deixar-se levar pelas impressões primeiras, visto que:

O devaneio é uma fuga para fora do real, nem sempre encontrando um mundo irreal consistente. Seguindo a ‘inclinação do devaneio’ [...], a consciência se distende, se dispersa e, por conseguinte, se obscurece. Assim, quando se devaneia, nunca é hora de se ‘fazer fenomenologia’ (BACHELARD, 1988, p. 5).
3 O devaneio na ciência: imaginação e razão

O filósofo Bachelard noturno, entretanto, posteriormente, reflete que o devaneio do sonhador traz, por meio da imaginação poética, uma boa inclinação a uma consciência em crescimento que poderá ser seguida, considerando que o devaneio que o filósofo investiga é aquele que evoca das imagens puras:

O devaneio que queremos estudar é o devaneio poético, o devaneio que a poesia coloca na boa inclinação [...]. Esse devaneio é o devaneio que se escreve ou que, pelo menos, se promete escrever. Ele já está diante dessa página em branco. Então as imagens se compõem e se ordenam. O sonhador já escuta os sons da palavra escrita (BACHELARD, 1988, p. 6).

Nesse contexto, o fenomenólogo noturno defende a tese de que há uma linha muito tênue entre imaginação e razão, argumentando que as grandes invenções científicas surgem sempre a partir de sonhos despertos que, na sua teoria, se constituem devaneios positivos para a ciência:

[...] perguntaremos pois aos cientistas: como pensais, quais são as vossas tentativas, vossos ensaios, vossos erros? Quais são as motivações que vos levam a mudar de opinião? Por que razão vocês se exprimem tão sucintamente quando falam das condições psicológicas de uma nova investigação? [...] Dai-nos não o vosso empirismo da tarde, mas o vosso rigoroso racionalismo da manhã, o a priori do vosso sonho matemático, o entusiasmo dos vossos projetos, as vossas intuições inconfessadas (BACHELARD, apud RODRIGUES, 2005, p. 57).
Assim, o fenomenólogo retomando a crítica da razão inaugurada por Kant (1724-1804), faz uma análise crítica do empirismo e do racionalismo. De acordo com Rodrigues (2005), Bachelard, a partir dessa crítica, elabora uma outra concepção de razão na medida em que se aproxima das obras dos poetas surrealistas; buscando, com essa nova atitude, a ligação entre:
[...] razão e imaginação, sonho e aventura, pensamento e instrução na medida em que pensa se aventurando e se aventura pensando, em que dinamiza o pensamento, direcionando-o, para que encontre uma intuição súbita, além do conhecimento instruído (RODRIGUES, 2005, p. 53-54).

Para Bachelard, a imaginação antecede o pensamento, não é uma substância derivada nem submetida à razão, se constituindo uma situação inversa: “em seu contato com a razão, a imaginação mostra a força inventiva, criadora e aberta daquela” (RODRIGUES, 2005, p. 55). Segundo o filósofo, quando a razão é provocada pela imaginação, a razão constituída transforma-se “em razão experimental, suscetível de organizar surracionalmente o real” (BACHELARD, apud ROGRIGUES, 2005, p. 55). Assim, o conceito de imaginação para Bachelard não se resume a capacidade de perceber, compreender ou reproduzir a realidade, visto que: “A imaginação não é, como sugere a etimologia, a faculdade de fornecer imagens da realidade; ela é a faculdade de formar imagens que ultrapassam a realidade, que cantam a realidade. É uma faculdade de sobre-humanidade” (BACHELARD, apud PESSANHA, 1985, p. xvi).
Mediante tais formulações, o fenomenólogo instaura uma nova concepção de razão que, segundo síntese realizada por Rodrigues no conjunto da obra bachelardiana, tem como características básicas (RODRIGUES, 2005, p. 59):

  • a atividade da razão é consciência de retificação;
  • a razão tem função de invenção, relacionada à imaginação como potência virtual em atualização, submetida a uma rigorosa aprendizagem, operando a educação do pensamento materialista e da filosofia racionalista;
  • a razão é uma consciência presente no domínio técnico e teórico das operações científicas;
  • a razão é consciência que julga seu saber, a partir de uma ampliação e reforma da racionalidade;
  • a consciência da racionalidade educa-se na própria mudança dos sistemas de racionalidade;
  • as relações entre razão e experiência formam as noções de racionalismo aplicado e materialismo ordenado;
  • a razão compõe com a imaginação as margens do pensamento.

Dentro dessa perspectiva, o filósofo sonhador, além de formular uma nova concepção de razão, acaba contribuindo, pedagogicamente, para uma nova forma de se conceber as artes na atualidade, trazendo grande relevância epistemológica para o universo da pesquisa educacional e colaborando para mudanças de atitudes nas práticas pedagógicas, sobretudo, nas questões relacionadas ao imaginário, ao conhecimento científico e à interdisciplinaridade. Como apontam Caruso & Freitas (2003) no artigo Educar é fazer sonhar:
Bachelard – do ponto de vista filosófico – ganha papel primordial quanto à questão da importância da poesia e das artes na pedagogia, não como meios ou instrumentos didáticos, mas dando-lhes autonomias, e estudando-as como processo criativo, como poéticas. [...] ele valoriza o homem em uma sociedade produzindo ciência, tecnologia e poesia, conferindo-lhes igual valor na criação de um pensamento, ao mesmo tempo racional e imaginativo, capaz de produzir mudanças no conhecimento e no próprio homem (CARUSO; FREITAS, 2003, p. 4, grifo dos autores).

4 O devaneio na poiésis: alma e espírito

Mediante Bachelard, o devaneio poético é um fenômeno naturalmente transcendente, pertinente às crianças durante a infância e adormecido no ser humano na vida adulta. Segundo sua teoria, o devaneio poético origina-se na alma e promove o reencontro do homem com a sua natureza infanto-primitiva. É, propriamente, um estado individual, subjetivo, ocorre no psiquismo humano através do sonho diurno que se diferencia do sonho noturno. É um despertar da consciência adormecida para os mistérios profundos do mundo interior e da vida, que se realiza por meio da solidão do ser. Dessa maneira, o devaneio poético é um estado da alma sonhado pela memória, lembrado pelo devaneio e reanimado pela imaginação que ilustra a memória do artista:

[...] a memória sonha, o devaneio lembra. Quando esse devaneio da lembrança se torna o germe de uma obra poética, o complexo de imaginação e memória se adensa, há ações múltiplas e recíprocas que enganam a sinceridade do poeta. Mais exatamente, as lembranças da infância feliz são ditas com uma sinceridade de poeta. Ininterruptamente a imaginação reanima a memória, ilustra a memória (BACHELARD, 1988, p. 20).
Nesse sentido, pode-se dizer que, na teoria bachelardiana, o poeta é o sujeito capaz de suscitar, através de imagens poéticas, as lembranças de uma infância adormecida no ser-leitor, como bem diz o filósofo: “os poetas nos ajudarão a reencontrar em nós essa infância permanente, durável, imóvel (BACHELARD, 1988, p. 21). Para o fenomenólogo, a imaginação poética - objeto de sua abordagem metafísica -, pertence ao universo da alma, sendo o verdadeiro poeta, o sujeito que, ao penetrar na origem de uma imagem poética, cria outra atmosfera, originando uma nova linguagem que repercutirá no leitor: “O poeta na novidade de suas imagens, é sempre origem de linguagem” (BACHELARD, 1978, p. 185).
Todavia, Bachelard enfatiza que, ao anunciar uma metafísica da imagem pura, despreza a composição e estrutura do poema que pertence ao domínio do espírito e não da alma. Para ele, espírito e alma não são sinônimos, a alma pertence ao universo da imortalidade; enquanto que o espírito emerge do saber instituído e da intencionalidade criadora. Nesse sentido, ele reflete que a poesia pura, considerada a imagem nova, é aquela que transcende ao universo do espírito, posto que para o filósofo, “nos poemas se manifestam forças que não passam pelos circuitos de um saber” (BACHELARD, 1978, p. 186).
Para o filósofo noturno, a imagem poética existe antes do pensamento, pois para um poeta criar uma única imagem não existe um projeto preconcebido, a alma movimenta a imagem. Todavia, para o poeta escrever o poema completo, bem estruturado em sua composição, faz-se necessário uma intencionalidade criadora, um projeto prefigurado pelo espírito.
Nessa perspectiva, em sua fenomenologia da imaginação, Bachelard deixa de lado o problema da composição do poema, visto se constituir de grupamentos de imagens múltiplas que dificultam a ação do cientista fenomenológico na busca da origem da imagem pura (BACHELARD, 1978). Todavia, o autor alude que essa problemática se constitui digna de pesquisa científica, já que: “Nessa composição do poema intervém elementos psicologicamente complexos que se associam a cultura mais ou menos distante e o ideal literário de um tempo, componentes que uma fenomenologia completa deveria examinar” (BACHELARD, 1978, p. 189).

5 Conclusões

Mediante o que fora visto, poder-se-ia inferir que a imaginação poética, conforme Bachelard, envolve duas dimensões específicas: uma de natureza transcendente, subjetiva, portanto, não mensurável; e, outra, de natureza material passível de exame e síntese.
Assim, a metafísica bachelardiana, além de servir como fundamentação teórica, serve como premissa à reflexão pedagógica acerca da formação dos sujeitos sócio-humanos, remetendo a um questionamento sobre que tipo de educação corresponde às expectativas atuais da humanidade. Segundo Bachelard, a criança na infância é um ser naturalmente sonhador, e o sonho desperto, quando bem dirigido, traz benefícios à vida humana, posto que a imaginação, segundo o filósofo, apesar de ocorrer subjetivamente, contém elementos materiais, pois se associa diretamente à experiência e ao conhecimento.
Nesse sentido, sendo a poesia de domínio do imaginário, faz-se necessário que se “ensine a sonhar” para que se possa potencializar essa faculdade. O devaneio, no sentido da imaginação poética, pode servir para acordar a criatura humana para os mistérios da vida e potencializar competências, como destaca Bachelard (1978, p. 195): “Com a poesia, a imaginação se coloca no lugar onde a função do irreal vem seduzir ou inquietar – sempre despertando – o ser adormecido em seus automatismos”.
Nesse contexto, a educação estética pode abrir diversas possibilidades para uma consciência em crescimento (BACHELARD, 1978). Visto que, através da imaginação poética, o sujeito passa a ver a vida noutra dimensão, adquire uma nova visão de mundo, de si mesmo e vislumbra possibilidades concretas. Entretanto, “o sonhador não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo” (BACHELARD, apud CARUSO; FREITAS, 2003, p. 4). Nesse sentido, é tarefa da pedagogia pensar a profundidade desse espelho, como apontam Caruso & Freitas (2003):

É fundamental que seja o educador a dar profundidade a esse espelho, através de sua própria imagem, reflexo de um conjunto de valores e saberes adquiridos. É ele que motivará seus alunos a sonharem, sob pena de levá-los à frieza da incredulidade. Sua postura diante da vida – da própria vida e da vida dos outros – é determinante (CARUSO; FREITAS, 2003, p. 4).


Referências Bibliográficas


BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. In: ______. Filosofia do não; O novo espírito científico; A poética do espaço. Trad. Antônio da Costa Leal e Lídia do Vale Santos Leal. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1978, p. 181-354.
______. A poética do devaneio. Trad. Antonio de Párdua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
______. O direito de sonhar. Trad. José Américo Motta Pessanha et al. São Paulo: DIFEL, 1985.
CARUSO, Francisco; FREITAS, Maria Cristina Silveira. Educar é fazer sonhar. In: Centro de Brasileiro de Pesquisas Físicas / CBPF-CS-009/03. Disponível em: < http://cbpfindex.cbpf.br/publication_pdfs/cs00903.2006_12_08_10_36_41.pdf.> Acesso em: 04/02/2007.
RODRIGUES, Victor Hugo Guimarães. Gaston Bachelard e a sedução poética: a criação de um filosofar onírico. In: Revista Eletrônica Mestrado em Educação Ambiental. v. 15, julho a dezembro de 2005. Disponível em: <http://www.remea.furg.br/edicoes/vol15/art05.pdf.> Acesso em: 05/02/2007.
PESSANHA, José Américo Motta. Bachelard: as asas da imaginação (Introdução). In: BACHELARD, Gaston. O direito de sonhar. Trad. José Américo Motta Pessanha et al. São Paulo: DIFEL, 1985.

Nota:
[1] Fundamentação teórica contemplada durante o Mestrado em Educação (PPGEd / UFRN), pertinente a trabalho apresentado no 18 EPENN, sob a orientação do Prof. Dr. Antonio Basílio Novaes Thomaz de Menezes:
FERNANDES, Hercília M.; MENEZES, A. B. N. T. de . Cecília Meireles e o fenômeno criador: reflexões para a lírica pedagógica à luz de Bachelard. In: 18 EPENN - Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste. Maceió, 2007.