quinta-feira, 12 de março de 2009

Lançamento de livro: INTERLÚDIOS DA CERTEZA


O poeta português Vicente Ferreira da Silva - autor dos livros Metafísica [poética] (AMI: 2007) e Letras, Palavras e Linhas: gestos pela diferença (AMI: 2005) -, lançará, durante este mês de março, na cidade do Porto e na capital portuguesa, o seu terceiro livro de poemas intitulado Interlúdios da Certeza, pela Temas Originais. Conforme informações no convite em anexo:

(clique na imagem para ampliar)

O autor, homônimo do filósofo brasileiro Vicente Ferreira da Silva (1916-1963), em sua trajetória criadora não nega o talento e as heranças culturais dos antepassados lusos. Apresentando beleza e simplicidade na linguagem, riqueza nas contextualizações e notória sensibilidade poética no manuseio de poemas que fundem tradição e, simultaneamente, descontinuidade estilística. Tematizando, em versos regulares/irregulares e livres, assuntos filosóficos e humanistas em apuradas imagens e leis da (meta)física: diga-se, poética!


Fluidez

.........................Nada é imutável.
.........................Tudo é mutável.
.........................Tudo é transformação.

.........................O Ser é o vector da cadência,
.........................a entidade fluida
.........................no irradiar do multiverso.

.........................Nada é impossibilidade.
.........................Tudo é possibilidade.
.........................Tudo é evolução.

(Vicente Ferreira da Silva, in: Metafísica [Poética], 2007, p. 41 )

Com aguçada inspiração, valores universais, elevados ideais e busca por sentidos, o poeta navega junto aos ardores do vento, produzindo poemas como quem compõe/decompõe tecidos para tecelagem das sensações e reflexões humanas. Tais considerações podem ser contempladas nos textos Membranas e Tapeçarias, poemas disponíveis no blog do autor d’Inatingível, que integram o livro Interlúdios da Certeza. Passemos aos textos:


Membranas

......................metamorfoses inconstantes evoluem nas (r)evoluções
......................das maçãs. pobre Newton! no caminho do ínfimo, a
......................mecânica produziu incerteza. nenhuma esfera de vidro
......................resistiu! só há inércia nos estilhaços de rubis translúcidos.

......................o retorno apenas é possível pela alquimia dos sentidos,
......................pela busca do elo dos multi-Versos interiores. Quais
......................cascatas verdes? sustenta-te nas terras das águas azuis.
......................não te esqueças que as estrelas são corpetes de jóias lilases.

......................animal político? por isso não existe lei sem paixão! Já
......................tentaste Estagira? fazes bem! de qualquer maneira não
......................é inteiramente redutor. pensa na alternativa, a Cidade
......................do Sol, e reparte-te no espírito da entidade cósmica.

......................qual a velocidade para se viajar entre galáxias? simples.
......................terá que ser geometricamente proporcional à distancia a
......................percorrer. no entanto, nada se afasta. é o espaço que se
......................expande! e aí chegarás ao pensamento do coração branco.

......................vês agora porque sigo golfinhos às quintas e as nebulosas
......................laranjas pela manhã? são a chave para a vibração pulsante
......................nos perfumes dos oceanos astrais. ou física em poeiras! No
......................acelerador de probabilidades internas dum orbe carecido.

......................que hei-de fazer? gosto de gatos siameses! principalmente,
......................em buracos de par nove. são mais resistentes. e meigos.

......................mas nunca abandonarei o imaginário vivo dos teus verbos.

(Vicente Ferreira da Silva, in: Interlúdios da Certeza).


Tapeçarias

...............................................o tempo no tempo de ser
...............................................existência conjunta.

...............................................sopros de múltipla espécie!
...............................................ondas incertas,

...............................................como afagos na liberdade em vento.
...............................................breves recordações.

...............................................ou frágeis manhãs,
...............................................nas imensas linhas do coração.

(Vicente Ferreira da Silva, in: Interlúdios da Certeza).



Breve biografia:

Vicente Ferreira da Silva tem Formação em Gestão de Transportes e Comércio Externo e Estudos Europeus (Relações Internacionais). É Auditor de Defesa Nacional e Doutorando em Ciência Política e Relacões Internacionais na Universidade do Minho. Na Web, o autor dispõe de várias publicações e postagens de textos poéticos nos blogs d’Inatingivel e Infinito Azul. Atualmente, Vicente Ferreira da Silva também escreve para o jornal O Público, de Lisboa.

Contatos com o autor: doinatingivel@gmail.com


domingo, 8 de março de 2009

Em todas as coisas: às mulheres e aos seus [muitos] outros


Ofereço o poema às mulheres leitoras e escritoras da Blogosfera que, em meio às “singularidades” e “deformações” do universo poético-feminino
, expõem e lutam pela afirmação do eu-lírico.


Em todas as coisas


Borboleta azul
Borboleta vermelha.

Borboleta rosa-carmim
Borboleta framboesa.

Borboleta marrom
Borboleta jasmim.

Borboleta Avon
Borboleta malagueta.

Borboleta amarela
Borboleta rubi.

.....................Borboleta néon
.....................Borboleta cravo-canela.

.....................Borboleta pequena
.....................Borboleta singela.

.....................Borboleta carnuda
.....................Borboleta magrela.

.....................Borboleta amena
.....................Borboleta destemida.

.....................Borboleta carrancuda
.....................Borboleta atrevida.

.................................................................Borboleta voadora
.................................................................Borboleta surda-muda.

.................................................................Borboleta aeromoça
.................................................................Borboleta kama sutra.

.................................................................Borboleta vestida
.................................................................Borboleta camuflada.

.................................................................Borboleta despida
.................................................................Borboleta siliconada.

Borboleta na janela
Borboleta no fogão.

Borboleta na chaleira
Borboleta no sabão.

Borboleta morta-viva
Borboleta viva-morta.

Borboleta nova-velha
Borboleta velha-nova.

...............................Borboleta para ouvir
...............................Borboleta para sonhar.

...............................Borboleta para sorrir
...............................Borboleta para estudar.

...............................Borboleta para ver
...............................Borboleta para rezar.

...............................Borboleta para chover
...............................Borboleta para ensinar

Em todas as coisas
existem com certeza
um milhão de idéias
nuas e expostas sobre a mesa.

Em todas as coisas
há uma infinidade de receitas:
Borboleta pintando tragédia
Borboleta ensaiando beleza.




*Do livro Ruínas & Quimeras (FERNANDES, Hercília, 2006, p. 25).