quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Do jogo do contente às competências leitoras




As minhas primeiras experiências de leitura se deram com obras clássicas da literatura infantil e universal, e, posteriormente, com as chamadas "leituras para moças" (até hoje, de certa forma, pego-me a brincar o "jogo do contente"...).

Durante algum tempo, as coleções Sabrina, Júlia, Bianca... povoaram-me o imaginário romântico. Leituras prazerosas que aguçavam-me os sonhos, as fantasias, os sentidos e as emoções, e faziam-me viajar em lugares não conhecidos, bem como remetiam-me à reflexão dos dramas e conflitos humanos.

Atrelada às leituras de best sellers, especialmente de romances, lia os grandes autores da literatura brasileira e portuguesa. Machado de Assis é-me uma paixão tão antiga que perdi até as contas... Experiências que, posteriormente, se enriqueceram no curso de Letras e ao longo da vida, aprimorando-me o gosto, tornando-me uma leitora mais atenta, reflexiva e seletiva.

Entretanto, as primeiras vivências leitoras contribuíram para que eu desenvolvesse o “hábito da leitura” e aprimorasse, inclusive, as minhas competências de escrita, já que não há escrita sem uma prática efetiva de leitura, sobretudo de mundo.

Hoje, assistindo tantas crianças e jovens se constituindo leitores na tela do computador, sobretudo nas páginas das redes sociais, inquieta-me se estes sujeitos evoluirão de um estágio inicial para um outro mais avançado de vivências literárias, tornando-se leitores e escritores competentes. Tendo em vista que, enquanto professora, constato nas práticas de sala de aula inúmeras dificuldades discentes em relação aos domínios de interpretação, recontextualização, síntese... Além de identificar problemas de conhecimento da língua considerados bastante elementares, tais como ortografia, concordância, uso de pronomes e tempos verbais...

Evidentemente, há textos e textos circulando na internet, inclusive nas redes sociais... Em termos de qualidade literária, de riqueza de conteúdos humanos, eu poderia citar uma lista interminável de autores e textos. Porém, até que ponto os nossos jovens têm sido atraídos às vivências literárias? Ou, por outro ângulo, até que ponto os autores e as autoras do século XXI têm sido lidos pelo leitor comum, isto é, o não-escritor "convencional”? Em que medida a produção escrita tem se mostrado uma prática verdadeiramente socializadora e democrática? (Deixo as questões...).

Por outro lado, considerando as problemáticas propostas, aproveito o texto para parabenizar as orientandas Aucilene Barroso, Fernanda Dayse e Maria Sarmento, concluintes de Pedagogia (CFP/UFCG), por terem se dedicado ao estudo do tema “literatura infantil e formação de leitor”, cujos trabalhos monográficos, preservadas as suas devidas singularidades, tecem preciosas contribuições ao debate, especialmente por evidenciarem a relevância da literatura infantil e das práticas socializadas de leitura à formação integral da criança e de suas competências leitoras.


Hercília Maria Fernandes,
Cajazeiras-PB, 17 out. 2012.




Arte: Amaryllis e Henrietta, 1952, de Vanessa Bell (Inglaterra, 1879-1961), óleo sobre tela.



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Profissão Professor: luta e esperança



A esperança faz parte da natureza humana. Seria uma contradição se, inacabado e consciente do inacabamento, primeiro, o ser humano não se inscrevesse ou não se achasse predisposto a participar de um movimento constante de busca e, segundo, se buscasse sem esperança. A desesperança é a negação da esperança. A esperança é um ímpeto natural possível e necessário, a desesperança é o aborto deste ímpeto. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica.

Paulo Freire


Que esta data, 15 de outubro, em que se homenageia o professor, sirva-nos para rememorar as lutas, embates e conflitos pertinentes ao longo processo histórico de constituição da profissionalização docente.

Quanto às conquistas, não se pode negar que, no curso dos últimos anos, muitos avanços têm ocorrido, especialmente em termos de reconhecimento do magistério como atividade profissional e não extensão de faculdades divinas ou vocações naturais, ideias que colaboraram para mistificar a docência no imaginário individual e coletivo, e que, em grande medida, promoveram a desvalorização do profissional “professor”.

Todavia, muitas políticas e ações efetivas em prol da profissionalização ainda se fazem necessárias. É preciso considerar que as problemáticas que assolam as sociedades contemporâneas impõem inúmeros desafios à docência e às instituições formadoras. O que demanda a luta por uma melhor qualificação, seja inicial ou continuada, valorização salarial e reestruturação da carreira, além da oferta de boas condições materiais para que se efetivem, qualitativamente, os processos de ensino e aprendizagem.

Entretanto, além dos aspectos subjetivos e objetivos que permeiam as problemáticas do ensino e da profissionalização do magistério na contemporaneidade, considera-se que se faz necessário cultivar uma "pedagogia da esperança", no sentido de preservar acesa a chama do otimismo que, longe de se constituir instrumento de dominação, consiste instrumento de reconhecimento das situações de opressão/exclusão existentes na realidade e de resistência a ideologias, fazendo emergirem caminhos de busca e possibilidades concretas de mudanças.

Com essas palavras, oferto o meu “abraço esperançoso” a todos(as) os(as) professores(as) que tive, tenho e ainda terei o prazer e o privilégio de compartilhar saberes & práticas.


Hercília Maria Fernandes,
professora.