sexta-feira, 16 de março de 2012

Nina Rizzi e os Tambores pra N'Zinga




lilás são os meus dentes e lábios e pernas e unhas.
minados. olhos.
o meu exército, william, é de violetas.

Nina Rizzi,
in Pra o fim da melodia, orquestras reais. 


Neste sábado, 17 de março, a poetisa Nina Rizzi lançará a obra Tambores pra N’Zinga, publicada pela Editora Multifoco, em evento a se realizar na cidade de Fortaleza, no Sobrado Doutor José Lourenço, a partir das 15horas.
A trajetória de Nina Rizzi, igualmente atriz e historiadora, no cenário artístico contemporâneo não se furta a conhecer. Idealizadora e autora do/no blog Hellenismos, a sua arte poética, além de expandir-se em ambientes virtuais, já integrara duas antologias constituídas por autorias femininas: Dedo de moça (Terracota Editora: 2009) e Maria Clara: uniVersos femininos (LivroPronto: 2010).
Porém, é em Tambores pra N’Zinga, livro apresentado pelo poeta Lau Siqueira e por mim prefaciado, que Nina Rizzi marca, indistintamente, a sua estreia no quadro atual da poesia contemporânea. Na obra, por meio de três capítulos, Nina Rizzi se lança a um projeto individual e, simultaneamente, de memória coletiva que, sob diversos “quandos”, alcança-lhe as retinas. Seduzindo-a para um “tudos”, nos termos benjaminianos, saturado de agoras e, com essa atitude, à rememoração dos “quases” da história.
No livro, a poetisa sugere-nos várias correspondências entre linguagens. Leva-nos a uma experiência “viva” com as artes, tendo em vista que “os perfumes, as cores e os sons”, segundo acepção de Charles Baudelaire, “se correspondem”. Nesse sentido, como quem “urra pelos cantos um gozo literário” e faz “um museu de tudo” (Rizzi, 2012), a poesia de Nina propõe-nos a totalidade de nossas experiências sensíveis por meio de intertextualidades com cenas e imagens pictóricas, artistas, historiadores, músicos e gêneros musicais, combinando as temáticas em desenvolvimento às especificidades das linguagens.
E ao sugerir-nos, em versos, essas articulações, a poetisa restaura a condição de autor enquanto sujeito de historicidade. Especialmente por trazer, ao presente, uma multiplicidade de fragmentos, de ecos e ressonâncias de outros tempos, espaços e memórias, cujos antecedentes se configuram “do mediterrâneo à áfrica central, o novo mundo” (Rizzi, 2012).
Assim, uma das qualidades que se observa presente em Tambores pra N’Zinga condiz à representação da imagem da autora nos poemas. Representação, ou invenção de si, que se configura desde o texto que confere título à obra aos poemas que compõem os capítulos. Sobretudo quando a remete a autodefinir-se “bucólica”, “melancólica”, “erótica”, “pornográfica” e, assim como a Rainha N’Zinga do Ndongo e de Matamba, do sudoeste da África, cujo livro homenageia e rememora, “senhora e soberana, deusa, cataclismo, umbigada”.
Isso “tudos” porque a razão é helênica, filosófica, dialética, mas o coração vibra, dança e combate em concordância com os tambores de uma guerreira africana. Muito embora as armas de sua luta se constituam “apolíneas”, representam tonalidades claras, rosadas e suavemente melancólicas, ou, no dizer da autora, “buendías”, que corporificam, em uma mesma expressão artística, um “exército de violetas” (Fernandes, in Prefácio).




* Breve explanação inspirada nos horizontes de leitura contemplados na escrita de Prefácio do livro Tambores pra N’Zinga.


quarta-feira, 14 de março de 2012

a poesia e o poeta


Ela [a poesia] não me pertence
[sequer me deseja provar!]
Parte madrugada à deriva
Galo canta:
- hora de acordar.


hfernandes,
mai. 2010.





Ele escuta silêncios.
Os sentidos de não palavras: das negativas às afirmações.
Compreende a longevidade nas pausas pela brevidade da demora.
Sabe que, entre-linhas, há uma ponte cujas águas vêm de fonte cristalina.
E há, ainda, a chama, o chamado e a bruma.
A névoa que recobre floresta e habita pássaro. E o pássaro voa noite 
adentro e se esconde no tardar dos primeiros raios.
Por que jaz o sol. Ele vem de outra ordem...


hfernandes,
abr. 2010.






*Poemas que integram o livro “Nós Em Miúdos”, com prefácio escrito pelo poeta Lau Siqueira.
Previsão de lançamento: julho de 2012.