sábado, 7 de fevereiro de 2009

O outro que há em mim: H.F. EM OUTROS ESPELHOS

Poetas se apaixonam...
Nada há de estranho nisso!

Aconteceu com o Pessoa, a Flor Bela, o Vinícius...
- Que dirá, pobre mortal, consigo?!

Poetas se apaixonam...
A palavra desce quente garganta ao umbigo.

E a estranheza?
[cá entre nós...]
também faz parte do ofício!...
(FERNANDES, in: Estranheza, 04 nov. 2008).


Desde que o blog de poesia HF diante do espelho fora criado, há cerca de dois anos, alguns amigos da Blogosfera deram-me o privilégio de ter publicações em seus espaços poéticos. A última postagem - já então apresentada no Novidades & Velharias -, ocorreu nesta semana feita pelo conterrâneo seridoense Moacy Cirne que incluiu o poema Alquimia em o Balaio Porreta n° 2559.

O gesto generoso do nosso querido Moacy levou-me a vislumbrar uma postagem específica de poemas postados em celeiros de amigos. Entretanto, para organização desta seleta, procurei reunir, exclusivamente, textos que divagam a temática “eu-tu”; compondo assim um painel de espelhamentos e reflexos duplicados que denomino de “poética da contemplação”.

Com esse critério de seleção, apresentarei aos leitores do Novidades & Velharias um dos motivos que perpassa as linhas de minha poesia. E aproveito a postagem para agradecer, formalmente, aos amigos que, gentilmente, abriram-me as portas de seus ninhos:

Às poetisas e educadoras Taninha Nascimento e Sandra Almeida; ao poeta e pesquisador português Vicente Ferreira da Silva e ao artista plástico João Werner, a minha sincera afeição e agradecimento.


Simulacro



Sinto-me inteiramente tua
(como poderia não sentir!?)

Sinto a lasciva que fulguras
Simulacro frágil de esculpir.

Sinto ensandecer-me: palavra tua!
Imensidão dèjá vu.

Sinto-me à tinta-mão fartura:

tinteiro
negro
cheio
cheiro

rosa, framboesa, carmim

jamais vu!...
(FERNANDES, 12 mai. 2008).


O texto Simulacro fora postado pelo poeta Vicente Ferreira da Silva d’Inatingível, em 18 de dezembro de 2008. Além de publicação n’Inatingível, o poema fora veiculado, em novembro de 2008, no Caderno Literário da editora Pragmatha de Porto Alegre, sob a coordenação da jornalista Sandra Veroneze, e também no Jornal O Rebate, pela poetisa Sandra Almeida .


Quatro Ventos




O Oceano conspira-me a favor
banha-me com águas brandas e escuras
abraça-me fina estampa em flor
deixa-me névoa, rosada, falácia muda...

O Oceano fala-me!...
Sopra-me quatro ventos de agouras:
areias, réstias, plumas, alcovas...
Boas e más venturas.


O Oceano é um vale indescritível
lugar antevisto - jamais ponderável!
É alma, irmã, mãe do impossível crível
Ser plásmico no lastro do infinitivo.

O Oceano...
afaga-me os sentidos!
(FERNANDES, 18 mai. 2008).


Quatro Ventos foi uma das escritas publicada em seleta biográfica organizada pela poetisa e educadora Sandra Almeida em seu espaço poético no jornal O Rebate, em 23 de agosto de 2008. O poema também fizera parte do Caderno Literário da editora Pragmatha de Porto Alegre, em outubro de 2008. Além de Quatro Ventos, Sandra Almeida publicou outros textos de minha autoria, dentre os quais destaco:


Quiromancia




Tua palavra
nunca terei!
Toque de mãos
menos ainda...

Boca molhada e arredia
É desdém que me cala e não me sacia!...

...


Fogo brando, tântrico,
banho-maria

Paixão, tântalo, tirania
Um vilão que nada me alivia...

Mas deixa-me, na boca, um gosto estranho:
quiromancia...

(FERNANDES, 15 abr. 2008).


O poema Quiromancia fizera parte da seleção de textos publicada por Sandra Almeida, no jornal O Rebate, em 23 de agosto de 2008.


Entradas & corredores




Hoje sonhei com você
Ou melhor,
sonhei que lhe procurava
entre entradas e corredores:
longos degraus,
e portas sempre fechadas.

Seu nome... numa das portas
aparecia em letras garrafais
Mas mesmo lá...
Eu sabia: - não podia bater
muito menos entrar!


Hoje sonhei com você
cenas bem reais:

[fantasmas
nos corredores]

[espinhos
nos varais]

[cravos e flores
nos arvoredos]

[pássaros e insetos
nos portais]

Mas, você nem sabe...
o mal que isso me faz!
(FERNANDES, 08 set. 2007).


Entradas & Corredores fora uma das minhas escritas postada pela amiga poetisa Taninha Nascimento, no blog No rastro da poesia, em 26 de fevereiro de 2008.


Cascata



Há um travo na garganta
e um travão nos olhos.

Um metro de lâmina
e uma granula de ópio.


Há uma palavra não-dita
e um silêncio gritante.

Uma ponte escondida
e um chinelo azul verdejante.

Há uma roda viva
e um mar morto


Uma verdade esculpida
e um cavalo solto.


Há coisas para serem ditas
umas - outras – melhoradas...

Uma lágrima fingida
um riacho cheio d'alma:

sebo
nervo
alheio

em cascata.
(FERNANDES, 04 set. 2008).


A postagem do texto Cascata envolve uma pequena história. Ao buscar uma imagem no Google Imagens para ilustração do poema, localizei o site do artista plástico João Werner. Na postagem forneci, como é de direito do artista, os créditos autorais da obra. Então, dias depois, para minha alegria e surpresa, João Werner publicou o poema Cascata como documentação da veiculação de sua obra Na beira do rio na Web.


Sugestões de leitura:


No blog HF diante do espelho há outros textos que tratam da relação "eu-tu". Para os interessados no aprofundamento desse manancial de "contemplação poética", sugiro as seguintes leituras:



Ilustrações:


  1. Gustav Klimt.
  2. Autoria desconhecida.
  3. Irene Sheri.
  4. Gustav Klimt.
  5. Autoria desconhecida.
  6. João Werner.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Alquimia no Balaio Porreta n° 2559


O seridoense Moacy Cirne, autor de vários livros sobre histórias em quadrinhos e um dos fundadores do poema-processo - movimento artístico-literário expandido no Rio de Janeiro durante a década de 1960 -, publicou o poema Alquimia, escrita pertinente ao blog HF diante do espelho, em seu Balaio Porreta n° 2559; conjuntamente com textos das poetisas Julia Duarte, Vivi Fernandes de Lima, e “avisos” difundidos na Rádio Rural de Caicó-RN nos anos de 1970 e reunidos por Celso da Silveira (in Tempo de rir, 1984).

Aproveito a ocasião para informar que o texto Alquimia também fora postado pelo psicanalista e poeta-trovador Marcelo Novaes, autor do livro Cidade de Atys (Ateliê Editorial: 1998), em bate-papo literário em O lugar que importa.

Indico a leitura do Balaio Porreta a todos os amigos que visitam o Novidades & Velharias; e agradeço ao Moacy Cirne, bem como ao escritor Marcelo Novaes, por tão especial e delicado gesto.

Alquimia

Dei-te rosas.
Dei-te ventos em procissão.
Dei-te a primavera:
A lâmpada, louca, cega;
Vela de contemplação.

Dei-te o mar.
Dei-te beija-amores.
Dei-te estrelas na tarde.
Dei-te riso, siso, fabuladores...

Dei-te especiarias:
ouro, prata, cristal, pedrarias.

Dei-te cada flor-metal em romaria.
E meu pranto quieto, inquieto,
transmutado em alquimia:

- Deitando-me!...

(FERNANDES, 16 dez. 2007).