Houve um tempo em que a janela de seu quarto abria-se à leve brisa da noite e aos mistérios da vida.
Em que estrelas incandescentes contavam-lhes histórias interminavelmente compridas.
Em que nuvens formavam-se, no céu, desenhando páginas e mais páginas em gotas embevecidas.
Houve um tempo em que ela escrevia longas cartas de amor.
Em que recortava e colava figurinhas junto ao texto. Em que selava, tão dulcíssima e secretamente, sinceros sentimentos em tão precioso e esperado beijo.
Houve um tempo em que flores eram lançadas ao mar; aviõezinhos à própria sorte; barcos à maré alta; sonhos perdidos, ao luar, em cinza mágica...
Houve um tempo em que eclode a dor da espera, e o silêncio torna-se único pranto possível.
Em que a dúvida tinge códigos vis em pergaminhos indeléveis, e só resta-lhe, enfim, saber-se sozinho.
Houve um tempo em que o texto resumia-se à paráfrase:
— Beijos, abraços e declarações de amor!...
Notas:
* Párafrase texto de Hercília Fernandes publicado em 04 de novembro de 2007, no blog HF diante do espelho.
** Arte: Van Gogh.