segunda-feira, 16 de junho de 2008

A LITERATURA INFANTIL ATRAVÉS DOS TEMPOS (Parte IV)


4 A LITERATURA INFANTIL NO SÉC. XIX: ROMANTISMO X REALISMO[1]


4.1 O interesse pela criança e pela família


Período decisivo para a consolidação da sociedade liberal burguesa, o Séc. XIX representa o apogeu da Era Romântica, quando ocorre o embate entre os valores aristocráticos da Era Clássica com os valores que o individualismo/romântico/plebeu vinha tentando, lentamente, sobrepor. A evolução mental, econômica, cultural e social serviu de base para a mudança de visão de mundo e representação, seja no campo da Literatura e/ou Artes em geral.

Dentro desse processo renovador, a criança é descoberta como um ser que precisa de cuidados específicos para a sua formação e o seu desenvolvimento integral; surge, então, todo um idealismo Romântico em torno da infância, que passa a ser entendida como a “idade de ouro”.

Dando prosseguimento às idéias de Rousseau, Pestalozzi, com bases espiritualistas e humanismo fraternal, proponha uma educação infantil voltada, sobretudo, aos cuidados com as crianças pobres e a integração familiar. No livro Leonardo e Gertrudes, o educador, através da narrativa, propõe aos pais como deve se dá a educação dos filhos. Ver-se, a partir de então, o lastro ideológico liberal burguês que se estende por todo o Séc. XIX e início do Séc. XX (ARCE, 2002)[2].

Também Froebel, seguidor de Pestalozzi, propõe uma educação infantil com base no psicologismo da criança e na expressão mística de sua “divindade interior”. Cria canções, jogos e brinquedos para facilitar a aprendizagem e defende práticas de jardinagem. Ambos os pedagogos tiveram ressonância em quase toda Europa e América e contribuíram para formar a chamada “Pedagogia Maternal”, cuja criança é a semente e, a professora, a jardineira (ARCE, 2002; FERNANDES, 2006).

As idéias de Rousseau, Pestalozzi e Froebel estenderam-se pelo Ocidente e repercutiram sob o processo criativo. As “lições de coisas”, a observação da natureza infantil, a exemplaridade do mestre, etc., encontraram ressonância no meio educacional e na Literatura Infantil.

No Brasil, Rui Barbosa propõe, através dos Pareceres do Ensino Fundamental e Superior, a mudança na mentalidade do professorado, dos métodos de ensino e a introdução de novas disciplinas, com base nas idéias difundidas nos países desenvolvidos. Em todo continente europeu e americano há um esforço “comum” de expansão da cultura letrada a fim de promover a modernidade e modernização das nações; a leitura, o conhecimento empírico, os valores provenientes da “fé cristã” e da “ciência” tornam-se alavancas para o desenvolvimento econômico (GONDRA, 2004).

Essas novas idéias científicas aliadas à fé cristã deram “legitimidade” a um projeto político-ideológico capitalista, cuja leitura, sentimento de nacionalismo e moralismo-cívico constituíram as bases para efetivar o progresso (GONDRA, 2002; 2004).

Dentre os escritores que se destacam, no Séc. XIX, na linha fantástico-maravilhosa encontram-se os Irmãos Grimm, que reúnem contos e narrativas de fundo folclórico, dando um sentido mais humanitário e menos violento às estórias do que Perrault, dentre elas: A bela Adormecida; Os Sete Anões e Branca de Neve; O Chapeuzinho Vermelho; O Pequeno Polegar, etc.. Acerca dos irmãos escritores expressa Coelho (1991, p. 140):


Buscando encontrar as origens da realidade histórica ‘nacional’ [da língua e cultura alemã], os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico... E uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças do mundo todo.


Outro nome célebre do séc. XIX é o de Anderson (1805-1875). Sintonizado com os ideais românticos, valores populares, princípios de fraternidade e generosidade humana, o escritor “vai-se revelar uma das vozes mais puras do espírito simples” (COELHO, op. cit., p. 149).

Na produção literária de Anderson evidenciam-se elementos do realismo e do maravilhoso. A maioria de suas narrativas apresenta personagens, espaço e problemáticas retirados da realidade comum; porém, o elemento mágico está em tudo, na harmonia estabelecida entre o Real e a Fantasia. Algumas obras: O Patinho Feio; Os Sapatinhos Vermelhos; O Soldadinho de Chumbo; João e Maria, etc.

Outra expressão de grande repercussão, nesse século, fora Lewis Carrol, escritor de Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Espelho, dentro da linha fantástico-maravilhosa. Outras expressões literárias infantis, do final Séc. XIX, foram as chamadas “Viagens Pedagógicas”. Livros que levavam os leitores a conhecerem seus países e regiões por meio de aventuras fantásticas, dentre elas destacam-se: Viagem através da França por dois meninos (1877 / G. Bruno) e A viagem maravilhosa de Nils Holgersson (1907 / Selma Lagerlöf).



Notas:


[1] Trabalho apresentado pela professora Mestranda em Educação e Especialista em Educação Infantil Hercília Maria Fernandes à Banca de Professores Examinadores no Concurso para Professor Substituto (2008.1), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 29 de Janeiro de 2008, durante o processo seletivo para concorrer a cadeira da disciplina Literatura Infantil no curso de Pedagogia/UFRN/CERES/Campus de Caicó-RN.

[2] Todas as referências bibliográficas, citadas no curso das seis partes que integram este estudo, encontram-se presentes no término de: "A Literatura Infantil na Atualidade (Parte VI)". Disponível em: http://novidadesevelharias-fernandeshercilia.blogspot.com/2008/06/literatura-infantil-atravs-dos-tempos.html


Um comentário:

  1. Nossa! Quantos fatores influenciam a educação infantil. Este seu trabalho é uma obra de arte. E isto tudo contracenando com revoluções, guerras, etc...
    Estou encantada! Como uma criança!

    Beijos, amiga

    Mirze

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