terça-feira, 17 de junho de 2008

A LITERATURA INFANTIL ATRAVÉS DOS TEMPOS (Parte II)



2 DAS NARRATIVAS ORAIS À ESCRITA[1]


2.1 Mas, os tempos mudam...


É durante a modernidade que a literatura Ocidental adquire seu contorno e alcança o apogeu da civilização humanista – liberal – cristã – burguesa.

No Renascimento acontece um amplo e complexo movimento cultural que se propaga pela Europa Ocidental, por volta dos séculos XV e XVI, e impõe novas concepções de homem/mundo e relações sociais. Vários fatores contribuem para efetivar transformações na mentalidade e vida cultural, dentre eles: as descobertas científicas (Copérnico, Kepler, Galileu), as conquistas marítimas e as novas terras conquistadas; as reformas religiosas (Lutero - Protestante e a Contra-Reforma – Católica); a vulgarização do papel (Séc. XIV) e a invenção da imprensa (Séc. XV).

A invenção da imprensa marca profundas mudanças no quadro cultural, já que surge também o livro em série e, com ele, o fim dos “copistas” e a propagação das “novas” idéias.

A visão de mundo deixa de ser Teocêntrica e cria-se um otimismo ingênuo em torno do Homem - antropocentrismo -, que a tudo pode criar, transformar, dominar... Funde-se um humanismo inspirado na Antigüidade grego-romana e adaptado ao cristianismo; mudam-se os costumes e práticas; criam-se escolas, produzem-se livros em série a fim de civilizar, higienizar, formar uma nova consciência com hábitos saudáveis, desejáveis e citadinos mediante o modelo educacional da nobreza culta (BOTO, 2002)[2].



2.2 A criança-leitora e a modelação do espírito infantil


A partir do Renascimento tem-se início um longo processo de produção e massificação dos valores da nova classe dominante – a burguesia -, onde a criança é preparada para tornar-se o Novo Homem.

A criança, nessa época, é concebida como “adulto em miniatura” e, gradativamente, é afastada do convívio familiar - considerado pobre, rude e inapropriado - e introduzida nos colégios. Efetua-se um fortuito projeto de transformação cultural, cuja criança passa a ser encarada como leitora em potencial, e, a infância, fase de semear e de minimizar esse estágio de “incompletude” da vida (BOTO, 2002).

Pedagogos, preocupados com os “novos” espíritos, passam a escrever livros, cartilhas e similares para fins educacionais, sobretudo morais e de “boas” maneiras, conforme os hábitos corteses. Dentre os escritores pioneiros, destacam-se: Erasmo (1467-1536) com a obra Educação Liberal das Crianças; Rabelais (1483-1553) com a sátira Gargantua critica a escolástica e defende a educação moderna; e, Montaigne (1533-1592), em seus Ensaios, defende o novo ideal e espírito humanista de preparar o “cavalheiro” ao invés do homem erudito (COELHO, 1991; BOTO, 2002).

Narrativas das antigas tradições orais são reescritas e readaptadas mediante intencionalidades pedagógicas, ideologias, valores e novos saberes da burguesia e da ciência pedagógica moderna (COELHO, 1991; MEIRELES, 1984). O livro escolar passa a desempenhar, em casa, a função do mestre, e, além de instruir a criança dentro dos moldes burgueses, desempenha uma função modeladora junto às mães e aos pais que necessitam ser reeducados dentro do espírito capitalista (ZILBERMAN, 2003).



Notas:

[1] Trabalho apresentado pela professora Mestranda em Educação e Especialista em Educação Infantil Hercília Maria Fernandes à Banca de Professores Examinadores no Concurso para Professor Substituto (2008.1), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 29 de Janeiro de 2008, durante o processo seletivo para concorrer a cadeira da disciplina Literatura Infantil no curso de Pedagogia/UFRN/CERES/Campus de Caicó-RN.

[2] Todas as referências bibliográficas, citadas no curso das seis partes que integram este estudo, encontram-se presentes no término de: "A Literatura Infantil na Atualidade (Parte VI)". Disponível em: http://novidadesevelharias-fernandeshercilia.blogspot.com/2008/06/literatura-infantil-atravs-dos-tempos.html



Um comentário:

  1. Impressionante quão pouco tempo faz, que as crianças começaram a receber algo melhor em forma de leitura e educação. Estou Abismada!
    Excelente!
    Pababéns mais uma vez. Belíssimo o seu trabalho.
    Beijos

    Mirze

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