
2 DAS NARRATIVAS ORAIS À ESCRITA[1]
2.1 Mas, os tempos mudam...
É durante a modernidade que a literatura Ocidental adquire seu contorno e alcança o apogeu da civilização humanista – liberal – cristã – burguesa.
No Renascimento acontece um amplo e complexo movimento cultural que se propaga pela Europa Ocidental, por volta dos séculos XV e XVI, e impõe novas concepções de homem/mundo e relações sociais. Vários fatores contribuem para efetivar transformações na mentalidade e vida cultural, dentre eles: as descobertas científicas (Copérnico, Kepler, Galileu), as conquistas marítimas e as novas terras conquistadas; as reformas religiosas (Lutero - Protestante e a Contra-Reforma – Católica); a vulgarização do papel (Séc. XIV) e a invenção da imprensa (Séc. XV).
A invenção da imprensa marca profundas mudanças no quadro cultural, já que surge também o livro em série e, com ele, o fim dos “copistas” e a propagação das “novas” idéias.
A visão de mundo deixa de ser Teocêntrica e cria-se um otimismo ingênuo em torno do Homem - antropocentrismo -, que a tudo pode criar, transformar, dominar... Funde-se um humanismo inspirado na Antigüidade grego-romana e adaptado ao cristianismo; mudam-se os costumes e práticas; criam-se escolas, produzem-se livros em série a fim de civilizar, higienizar, formar uma nova consciência com hábitos saudáveis, desejáveis e citadinos mediante o modelo educacional da nobreza culta (BOTO, 2002)[2].
A partir do Renascimento tem-se início um longo processo de produção e massificação dos valores da nova classe dominante – a burguesia -, onde a criança é preparada para tornar-se o Novo Homem.
A criança, nessa época, é concebida como “adulto em miniatura” e, gradativamente, é afastada do convívio familiar - considerado pobre, rude e inapropriado - e introduzida nos colégios. Efetua-se um fortuito projeto de transformação cultural, cuja criança passa a ser encarada como leitora em potencial, e, a infância, fase de semear e de minimizar esse estágio de “incompletude” da vida (BOTO, 2002).
Pedagogos, preocupados com os “novos” espíritos, passam a escrever livros, cartilhas e similares para fins educacionais, sobretudo morais e de “boas” maneiras, conforme os hábitos corteses. Dentre os escritores pioneiros, destacam-se: Erasmo (1467-1536) com a obra Educação Liberal das Crianças; Rabelais (1483-1553) com a sátira Gargantua critica a escolástica e defende a educação moderna; e, Montaigne (1533-1592),
Narrativas das antigas tradições orais são reescritas e readaptadas mediante intencionalidades pedagógicas, ideologias, valores e novos saberes da burguesia e da ciência pedagógica moderna (COELHO, 1991; MEIRELES, 1984). O livro escolar passa a desempenhar, em casa, a função do mestre, e, além de instruir a criança dentro dos moldes burgueses, desempenha uma função modeladora junto às mães e aos pais que necessitam ser reeducados dentro do espírito capitalista (ZILBERMAN, 2003).
Notas:
Impressionante quão pouco tempo faz, que as crianças começaram a receber algo melhor em forma de leitura e educação. Estou Abismada!
ResponderExcluirExcelente!
Pababéns mais uma vez. Belíssimo o seu trabalho.
Beijos
Mirze