domingo, 21 de março de 2010

Lou Vilela, a mensageira do vento


Lou Vilela, natalense de origem e residente na cidade do Recife-PE, é uma poeta de grande sensibilidade imagística e habilidade semântica. Posta, regularmente, poemas e breves textos em prosa em seu espaço virtual Nudez poética, direcionado à acepção literária adulta. E desenvolve, na Blogosfera, um trabalho voltado ao leitor infanto-juvenil, especialmente às crianças, no blog Ritmos e rimas. Vejamos alguns traços de sua poesia.

Uma das qualidades da voz poética de Lou Vilela é a expansão - em versos oníricos, breves e musicais -, de temáticas profundas e ambíguas. A poeta, fazendo da “pena moinho”, anuncia/denuncia a vida das “gentes esquecidas” espalhadas à margem do tecido social. Nordestinos, mulheres, crianças são protagonistas em seus versos, oferece voz a grupos considerados “minorias”; muitas vezes expostos a múltiplas violências nas práticas sociais cotidianas.

Algumas dessas qualidades podem ser apreciadas nos versos de Simbiose e Um conto sem réis. Leiamos os poemas:


em terra seca

de ninguém

sou nada


imprescindo d’água

e na face inundada

provo das gentes


meu sertão..., mal cabe na garganta:

as gentes, escorrem-me pelos dedos


***


Naquele pardieiro

ecos paredes rachadas

de risos de bocas

esfomeadas

vazamentos incontidos

profundo (a)mar


Os poemas de Lou Vilela, além de profundidade temática, contêm intensidade lírica e apresentam belas imagens femininas associadas a contextualizações, metalinguagens, ambiguidades e sinestesias várias. Onde transbordam, em versos sugestivos e sensuais, frescores que alagam/alargam sentidos. Sensações que se podem experimentar a partir de os versos de Reflexos:


é esse teu olhar invasivo

que atordoa...


essa tua tatuagem olfativa

que embriaga...


tuas unhas que marcam,

tua saliva que cura.


são os teus trejeitos que ins.piro,

os teus trajetos que invado

entre mentes dentes dedos e falo.


enquanto transbordas

me alago.


No tocante à poesia infantil, a voz de Lou Vilela desenvolve temas como a dor, a perda e a morte; o cotidiano das crianças com suas brincadeiras, jogos e linguagens; a natureza e a temática animal; além de assuntos pertinentes à vida de um ser em desenvolvimento, como a alimentação.

Por meio do jogo e do ludismo, da imagística, da simplicidade na linguagem, da rima e figuras sonoras, a poetisa expande valores que se apresentam coerentes a um leitor em formação; e convida a criança a adentrar no mundo das letras, da imaginação e a construir conceitos.

Através do sentir/fazer poético, Lou Vilela propõe jogos de linguagem e desafios semânticos que contribuem para inquietar e remeter os leitores à plurissignificação textual; promovendo a construção de sentidos através do desvendar de pistas, combinações, sugestões de signos e imagens.

A sua poesia infantil oferece espaço para a livre significação, o que demonstra o respeito da autora às especificidades e à imaginação da criança; apresentando-lhes temas que, sem imposições moralísticas, portam consistência nos conteúdos de mensagem que, poeticamente, levam à reflexão das coisas existentes na natureza física e social-humana.

Leiamos mais dois poemas de Lou Vilela. Neles, a poetisa sopra belas imagens ligadas à natureza e se apresenta à criança - também ao leitor adulto - como "mensageira do vento"; anunciando a função da poesia e do poeta. E, posteriormente, convida o leitor a pensar a morte e a perda, valores que perpassam a vida humana:



Mensageiro dos ventos


vem pulsar uma viola sob

noite enluarada,

ouvir grilos, vagar lume?


há dias em que até as pedras

cantam poemas: a natureza

explode em exuberância!


e o poeta (in)venta

: faz da pena um moinho










Vovô em cena

A Gabriel, in memoriam.


O vovô de Iago,

Mateus e Aninha

fechou os olhinhos,

esqueceu a idade:


partiu sem adeus,

sem mochila...

na hora de fazer

traquinagem.


No céu uma estrela

que brilha e acena.

Sorrindo, encena

deixando saudades







Notas:


*Texto postado em 14 de março de 2010, no blog Maria Clara: simples mente poesia, em homenagem a “data natalícia da autora” que coincide com o “dia nacional da Poesia”.

**Imagens: Catavento, de Luciana Teruz (Brasil, 1961); Céu estrelado, de Douglas Soares, 2007.


6 comentários:

  1. hercília,deixei um recadinho no simplesmente poesia para as duas belas poetas.
    seu carinho e admiração pela lou...visíveis no texto...é um reconhecimento poético importante e
    merecido.
    bjos
    taniamariza

    ResponderExcluir
  2. Prezada Hercília,

    Já havia registrado os devidos agradecimentos no Maria Clara, contudo, não posso deixar de salientar o meu contentamento por ver esta linda homenagem aqui, no Novidades & Velharias.

    Um grande abraço!

    -----------------

    Taninha,

    Agradeço pelo gentil comentário, minha cara!

    Adorei "revê-la"!

    Beijos

    ResponderExcluir
  3. Mais uma vez o Novidades e Velharias, pomposamente estende um tapete vermelho para uma de nossas estrelas.

    Mais que merecido, Lou se esmera em tudo que faz.

    E você, Hercília como anfitriã, não deixa por menos.

    Parabéns e beijos às duas

    Mirse

    ResponderExcluir
  4. Meninas,

    obrigada pelas visitas e palavras.
    A poesia de Lou é tudo de bom, seja para adultos ou crianças ou ainda crianças adultas.

    Beijos em vocês!
    H.F.

    ResponderExcluir
  5. Que bonito, Hercília!

    Lindíssima homenagem
    a Lou Vilela!

    Não conhecia
    os seus trabalhos infantis.
    Visitarei o blog agora!

    Um abraço,
    doce de lira

    ResponderExcluir
  6. Oi Renata.

    Feliz com sua visita e palavras expressas.

    A poesia para crianças da Lou é bela como é sua poesia para adultos. Vale a pena visitar o Ritmos e rimas.

    Um forte abraço, querida!

    Beijos,
    H.F.

    ResponderExcluir