“Poesia com marca pessoal e de extrema sensibilidade. Exuberância plástica das metáforas, revelando uma sensibilidade para o dizer/ver que se espraia em telas e imagens igualmente de alta fatura estética” (Antônio Carlos Secchin).
As palavras do poeta, crítico, organizador de antologias e professor titular da UFRJ, Antônio Carlos Secchin[1] traduzem, abundantemente, a riqueza do imaginário criativo do artista Assis de Mello.
Assis de Mello - poeta, biólogo, professor e pesquisador da UNESP (Campus de Botucatu / SP) - difunde as belas linhas de suas escritas no blog intitulado Coisas do Chico.
Em Coisas do Chico, o leitor encontra não apenas versos, imagens, canções... Mas versos, imagens e canções que dão formas a poemas em elevada esteticidade paisagística, conceitual e rítmica.
Há na poesia de Assis de Mello um rico manancial temático, imagístico e semântico: seres, estados emotivos e intersubjetividades, memórias da infância... E, caleidoscópios de signos colorem os múltiplos sentidos das muitas “Coisas do Chico”.
Há musicalidade, dicções quebradas em versos curtos e irregulares, aliterações e trocadilhos que provocam maior ludicidade aos textos, produzindo um efeito humorístico à escrita, gostoso de se ler.
Há evocação e valorização à natureza, mas não a natureza idílica comum aos árcades líricos que cantavam as dores do bem perdido nos nobres palácios citadinos da burguesia...
Nos versos de Assis de Mello, a natureza não é figuração. É essência, vida, razão e movimento da própria existência. A paixão e o respeito ao Ecossistema perpassam as suas linhas sensivelmente construídas e movem o leitor para a consciência de sua responsabilidade perante o Planeta. É como se seus versos dissessem: “observa, leitor, a beleza da libélula, sapo, jacaré, flor; da serpente, girassol, beija-flor... da criança, mulher, homem, das mil faces do amor"!
Poesia com apurada consciência humana, artística e ecológica. Rimas e cadências não-usuais, metáforas, paisagens e melodias que, juntas, dão vida às aquarelas do poeta.
Passemos, leitor, para algumas das muitas “Coisas do Chico”:
Apnéia
a um cano de torneira
e a noite mouca
nem me ouso referir:
a claridade ofusca
Uma dama sentada à sombra
embala o vento que me foi roubado
(In: http://coisasdochico.blogspot.com/2008/09/rotina.html)
__________nas entranhas
__________da argila
__________dura
___________nos gentis prelúdios
___________de um dedilhar de mulher
o calor das mãos,
reinventa o segredo das conchas
___________no oco
o novo reaviva o velho
e o som leve do hálito
___________partido
rompe o hímem do tempo
e crispa a pele do silêncio
- libélulas, pardais
___________rebrotam
do horizonte
___________afloram
os presságios
(In: http://coisasdochico.blogspot.com/2008/08/enlevo.html)
Marinha
Uma alma corrugada
de tantos vieses
- jararaca ilhoa
no raso do chão
Manhãs sem sol
________Uma espreita
________de pedra
Vez ou outra
um barco aponta
na borda do arco
mas não
________atraca
e todos os faroleiros se foram
________numa certa manhã
________endiabrada
________de sal
Um cochicho de vento
________Ressona
no umbo
e na boca das conchas
(In: http://coisasdochico.blogspot.com/2008/08/solides.html)
Ars Poetica Truncata
Não se refira
a uma mulher
como poeta
_________diga poetisa
Deixe poeta ao marmanjo
criador da ampulheta
_________da baioneta
do estrondo da nau
_________de corveta
do ogro, do malogro
_________do rabo do capeta
O homem
come e deleta
chame-o poeta
__________A mulher martiriza
__________numa torre de Pisa
__________que seja poetisa
__________- e mesmo por ir
__________abilhada de brisa
__________e por ser tudo de bom
__________aúra-masda, pitonisa –
Além do mais
repare nisto:
nas noites de vento e lua cheia
em que os sininhos das varandas
reinam no desmando
__________/- corre, Maria
__________________o macarrão tá queimando! /
________Mulheres...
(In: http://coisasdochico.blogspot.com/2007/04/alegoria-infantil.html)
Um Olhar Sobre as Letras
Rasgo
meu silêncio
de
sargaço
e breu
Como aquietar-me
Neste
Mar
de versos mínimos
___________se cada célula
___________do plâncton
___________cria seu próprio
___________panteão?
Fios de encantamento
também cosem
oceanos
(In: http://coisasdochico.blogspot.com/2008/05/blindagem.html)
Assis de Mello, além de lecionar, pesquisar e se dedicar à poesia, entrega-se, nas horas vagas, às artes plásticas. Nesta postagem todas as aquarelas são obras do autor. Para conhecer um pouco mais das Coisas do Chico, o Novidades & Velharias sugere uma visita ao blog do poeta (http://coisasdochico.blogspot.com/). E-mail para contato: gryllus57@gmail.com.
Nota:
[1] A referência de Antônio Carlos Secchin à poética de Assis de Mello fora extraída do blog “Coisas do Chico”.