domingo, 9 de março de 2014

Doce de lira, poesia à mesa

Capa
Há alguns dias, recebi o livro "Doce de lira, poesia à mesa", da poetisa Renata Aragão, de Juiz de Fora-MG. O livro chegou-me com uma dedicatória bastante afetuosa da “Confeiteira”, como Renata poeticamente se apresenta:

"Querida Hercília,
que a poesia se mantenha presente em sua vida, de modo a adoçar os dias e a aguçar os sentidos..."

Conheço a poesia de Renata há algum tempo, pois tivemos a oportunidade de integrar o mesmo blog de vozes femininas - “Maria Clara: simplesmente poesia” - que, além de afortunadas interações poéticas e laços de amizade, nos rendeu o livro “Maria Clara: uniVersos femininos" (2010).

No entanto, é sempre uma experiência nova, única, portanto diferenciada, a leitura dos poemas de um autor em obra individual por ele organizada. No livro, sempre se tem a oportunidade de compreender melhor a sua visão de mundo, concepções estéticas e dicções, os temas que povoam o seu universo criativo, as construções linguísticas e imagéticas e até mesmo as palavras de sua preferência!

Renata Aragão: a confeiteira
E o livro "Doce de lira, poesia à mesa", então selecionado pela Lei Murilo Mendes edição 2012, recentemente publicado pela FUNALFA (2013), e prefaciado pela escritora e atriz Elisa Lucinda, nos possibilita melhor degustar a lírica doce e, ao mesmo tempo, cuidadosamente confeitada por Renata.

São muitos docinhos à mesa, bem ao alcance dos olhos, paladar e demais sentidos dos leitores. Certamente, não há como se escolher apenas um poema, já que os doces comportam cheiros, sabores e essências diferenciados, como bem anuncia a prefaciadora.

No entanto, um dos poemas, logo à primeira vista, me cativou os sentidos. E eis que venho compartilhá-lo:


SE É PRA FALAR DE AMOR
(p. 48)

muito se fala de amor
antes do amor:

essa vontade
de ter o outro
ainda idealizado

essa saudade
de um encontro
apenas imaginado

é que a possibilidade de amar
parece amor consolidado

mas amor sem experiência
tem algum significado?


               também se fala de amor
               durante o amor:

               essa vontade
               de manter o outro
               enamorado

               essa saudade
               banida a cada encontro
               marcado

               é que a oportunidade de amar
               parece amor consolidado

               mas amor sem convivência
               não é um tanto precipitado?


                              e pouco se fala de amor
                              após o amor:

                              essa vontade
                              de ver o outro
                              sob cuidado

                              essa saudade
                              mantida a todo encontro
                              selado

                              a capacidade de amar
                              é amor consolidado

                              amor com resistência,
                              o único autenticado


Diz Elisa Lucinda, em referência à arte poética de Renata Aragão, que a boa poesia "é aquela que toca os significados da gente" (p. 23). Concordo com o entendimento expresso pela escritora, e acrescento: a poesia de Renata não apenas toca os nossos significados, nos faz transpô-los, levando-nos à ressignificação de nossas ideias, emoções e sentimentos.


Hercília Fernandes.
Cajazeiras, 9 mar. 2014.



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