Capa |
Há alguns dias, recebi o livro "Doce de lira, poesia à mesa",
da poetisa Renata Aragão, de Juiz de Fora-MG. O livro chegou-me com uma dedicatória bastante afetuosa da “Confeiteira”, como Renata poeticamente
se apresenta:
"Querida Hercília,
que a poesia se mantenha presente em sua vida, de modo a adoçar os dias
e a aguçar os sentidos..."
Conheço a poesia de Renata há algum tempo, pois tivemos a oportunidade de
integrar o mesmo blog de vozes femininas - “Maria Clara: simplesmente poesia” -
que, além de afortunadas interações poéticas e laços de amizade, nos rendeu o
livro “Maria Clara: uniVersos femininos" (2010).
No entanto, é sempre uma experiência nova, única, portanto diferenciada,
a leitura dos poemas de um autor em obra individual por ele organizada. No
livro, sempre se tem a oportunidade de compreender melhor a sua visão de mundo, concepções estéticas e dicções, os
temas que povoam o seu universo criativo, as construções linguísticas e
imagéticas e até mesmo as palavras de sua preferência!
Renata Aragão: a confeiteira |
E o livro "Doce de lira, poesia à mesa", então selecionado
pela Lei Murilo Mendes edição 2012, recentemente publicado pela FUNALFA (2013),
e prefaciado pela escritora e atriz Elisa Lucinda, nos possibilita melhor
degustar a lírica doce e, ao mesmo tempo, cuidadosamente confeitada por
Renata.
São muitos docinhos à mesa, bem ao alcance dos olhos, paladar e demais
sentidos dos leitores. Certamente, não há como se escolher apenas um poema, já
que os doces comportam cheiros, sabores e essências diferenciados, como bem
anuncia a prefaciadora.
No entanto, um dos poemas, logo à primeira vista, me cativou os
sentidos. E eis que venho compartilhá-lo:
SE É PRA FALAR DE AMOR
(p. 48)
muito se fala de amor
antes do amor:
essa vontade
de ter o outro
ainda idealizado
essa saudade
de um encontro
apenas imaginado
é que a possibilidade de
amar
parece amor consolidado
mas amor sem experiência
tem algum significado?
também se fala de amor
durante o amor:
essa vontade
de manter o outro
enamorado
essa saudade
banida a cada encontro
marcado
é que a oportunidade de amar
parece amor consolidado
mas amor sem convivência
não é um tanto precipitado?
e pouco se fala
de amor
após o amor:
essa vontade
de ver o outro
sob cuidado
essa saudade
mantida a todo
encontro
selado
a capacidade de
amar
é amor consolidado
amor com
resistência,
o único
autenticado
Diz Elisa Lucinda, em referência à arte poética de Renata Aragão, que a
boa poesia "é aquela que toca os significados da gente" (p. 23).
Concordo com o entendimento expresso pela escritora, e acrescento: a poesia de
Renata não apenas toca os nossos significados, nos faz transpô-los, levando-nos
à ressignificação de nossas ideias, emoções e sentimentos.
Hercília Fernandes.
Cajazeiras, 9 mar. 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário