sábado, 24 de novembro de 2012

Existe Amor Pelo Povo Palestino?





EXISTE AMOR PELO POVO PALESTINO?


não ouvimos
não sentimos
não vêmos
não nos tocamos
não existe amor pelo povo Palestino

não comem em paz
não cantam em paz
não sonham em paz
não riem em paz
não existe paz para os gestos mais vitais e simples na Palestina

as igrejas calam
os governos consentem
as armas gritam
a fome cresce
a esperança desaparece
o terror se alimenta
no coração de quem nasce na Palestina

não se cale diante do crime e dos noticiários favoráveis ao crime
da mídia global controlada pelo capital transnacional
o único sentido de tudo isso
é o vampirismo de um estado bélico
que para se manter no poder
se alimenta ferozmente da guerra
que extermina vidas, semitas árabes israelenses palestinas
eu quero que esta poesia se espalhe
eu quero que este falso espelho democrático do mundo se estilhace
eu quero que você se envolva
eu quero que você se mova
eu quero que nas praças do planeta as crianças cantem o amor pela Palestina
eu quero que vários tradutores assumam a transcriação deste poema
e que o poder da palavra ocupe a cena da guerra
e de uma vez por todas
lutemos para que os palestinos tenham o direito de viver
de comer de estudar de brincar de sonhar de criar
de construir cidades e mundos em paz na Palestina


cisco zappa
primavera do hemisfério sul
brasil
2012





quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Do jogo do contente às competências leitoras




As minhas primeiras experiências de leitura se deram com obras clássicas da literatura infantil e universal, e, posteriormente, com as chamadas "leituras para moças" (até hoje, de certa forma, pego-me a brincar o "jogo do contente"...).

Durante algum tempo, as coleções Sabrina, Júlia, Bianca... povoaram-me o imaginário romântico. Leituras prazerosas que aguçavam-me os sonhos, as fantasias, os sentidos e as emoções, e faziam-me viajar em lugares não conhecidos, bem como remetiam-me à reflexão dos dramas e conflitos humanos.

Atrelada às leituras de best sellers, especialmente de romances, lia os grandes autores da literatura brasileira e portuguesa. Machado de Assis é-me uma paixão tão antiga que perdi até as contas... Experiências que, posteriormente, se enriqueceram no curso de Letras e ao longo da vida, aprimorando-me o gosto, tornando-me uma leitora mais atenta, reflexiva e seletiva.

Entretanto, as primeiras vivências leitoras contribuíram para que eu desenvolvesse o “hábito da leitura” e aprimorasse, inclusive, as minhas competências de escrita, já que não há escrita sem uma prática efetiva de leitura, sobretudo de mundo.

Hoje, assistindo tantas crianças e jovens se constituindo leitores na tela do computador, sobretudo nas páginas das redes sociais, inquieta-me se estes sujeitos evoluirão de um estágio inicial para um outro mais avançado de vivências literárias, tornando-se leitores e escritores competentes. Tendo em vista que, enquanto professora, constato nas práticas de sala de aula inúmeras dificuldades discentes em relação aos domínios de interpretação, recontextualização, síntese... Além de identificar problemas de conhecimento da língua considerados bastante elementares, tais como ortografia, concordância, uso de pronomes e tempos verbais...

Evidentemente, há textos e textos circulando na internet, inclusive nas redes sociais... Em termos de qualidade literária, de riqueza de conteúdos humanos, eu poderia citar uma lista interminável de autores e textos. Porém, até que ponto os nossos jovens têm sido atraídos às vivências literárias? Ou, por outro ângulo, até que ponto os autores e as autoras do século XXI têm sido lidos pelo leitor comum, isto é, o não-escritor "convencional”? Em que medida a produção escrita tem se mostrado uma prática verdadeiramente socializadora e democrática? (Deixo as questões...).

Por outro lado, considerando as problemáticas propostas, aproveito o texto para parabenizar as orientandas Aucilene Barroso, Fernanda Dayse e Maria Sarmento, concluintes de Pedagogia (CFP/UFCG), por terem se dedicado ao estudo do tema “literatura infantil e formação de leitor”, cujos trabalhos monográficos, preservadas as suas devidas singularidades, tecem preciosas contribuições ao debate, especialmente por evidenciarem a relevância da literatura infantil e das práticas socializadas de leitura à formação integral da criança e de suas competências leitoras.


Hercília Maria Fernandes,
Cajazeiras-PB, 17 out. 2012.




Arte: Amaryllis e Henrietta, 1952, de Vanessa Bell (Inglaterra, 1879-1961), óleo sobre tela.



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Profissão Professor: luta e esperança



A esperança faz parte da natureza humana. Seria uma contradição se, inacabado e consciente do inacabamento, primeiro, o ser humano não se inscrevesse ou não se achasse predisposto a participar de um movimento constante de busca e, segundo, se buscasse sem esperança. A desesperança é a negação da esperança. A esperança é um ímpeto natural possível e necessário, a desesperança é o aborto deste ímpeto. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica.

Paulo Freire


Que esta data, 15 de outubro, em que se homenageia o professor, sirva-nos para rememorar as lutas, embates e conflitos pertinentes ao longo processo histórico de constituição da profissionalização docente.

Quanto às conquistas, não se pode negar que, no curso dos últimos anos, muitos avanços têm ocorrido, especialmente em termos de reconhecimento do magistério como atividade profissional e não extensão de faculdades divinas ou vocações naturais, ideias que colaboraram para mistificar a docência no imaginário individual e coletivo, e que, em grande medida, promoveram a desvalorização do profissional “professor”.

Todavia, muitas políticas e ações efetivas em prol da profissionalização ainda se fazem necessárias. É preciso considerar que as problemáticas que assolam as sociedades contemporâneas impõem inúmeros desafios à docência e às instituições formadoras. O que demanda a luta por uma melhor qualificação, seja inicial ou continuada, valorização salarial e reestruturação da carreira, além da oferta de boas condições materiais para que se efetivem, qualitativamente, os processos de ensino e aprendizagem.

Entretanto, além dos aspectos subjetivos e objetivos que permeiam as problemáticas do ensino e da profissionalização do magistério na contemporaneidade, considera-se que se faz necessário cultivar uma "pedagogia da esperança", no sentido de preservar acesa a chama do otimismo que, longe de se constituir instrumento de dominação, consiste instrumento de reconhecimento das situações de opressão/exclusão existentes na realidade e de resistência a ideologias, fazendo emergirem caminhos de busca e possibilidades concretas de mudanças.

Com essas palavras, oferto o meu “abraço esperançoso” a todos(as) os(as) professores(as) que tive, tenho e ainda terei o prazer e o privilégio de compartilhar saberes & práticas.


Hercília Maria Fernandes,
professora.



terça-feira, 25 de setembro de 2012

pela primavera





pelo dito no momento inexato; pelo sorriso em estado de graça; por acreditar no impossível; pela música que nos toca; por não seguir os ditados de sempre; por romper a tradição, principalmente aquelas que nos tiram a possibilidade da escolha; pelas nuvens que bailam formas únicas no céu; pelo sim amplificado nas praças públicas; pela prosa saborosa; pelo frugal deleite de acordar sem relógios e alarmes; por se dar ao direito de não saber as respostas, principalmente por saber perguntar; pelos momentos de encontros surgidos ao acaso; pela liberdade de errar, de sinceramente errar; pelo desejo que se faz festa na pele e rejuvenesce o corpo; pela poesia de todo dia; pelos muitos e diversos caminhos que os amigos nos abriram, por aqueles que só os nossos pais abririam; pelas madrugadas insones; pelo choro e a perda de alguém querido e querida; pelas vezes que esquecemos que a economia é o centro que movimenta o humano labutar; por seguir em frente mesmo após seguidas porradas; por olhar a vida de outro ponto e de outro e outro...; por andar com os próprios sentimentos, descalçados de preconceitos; por saber e reconhecer o dia de hoje como a pedra de toque que tece o passado e o futuro - ao mesmo tempo; por tantos e tantas; pelo vinho e pela dança; pelo olhar de criança; pelo brandar leminskiano distraídos venceremos: evoé primavera!



fernando cisco zappa,
23 set. 2012





 *Texto e imagem disponíveis na página pessoal do autor no Facebook.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Depoimento: a greve docente numa leitura prático-afetiva



Hoje (12/09), anterior a assembleia docente do CFP/UFCG, então voltada às discussões e deliberações sobre os rumos da greve no campus de Cajazeiras-PB, parei, durante o percurso, em um posto de combustível. Durante o tempo de abastecimento, duas pessoas indagaram-me sobre o fim da paralisação. A primeira, um pai de aluno do curso de medicina, perguntou-me qual a minha expectativa frente ao término da greve; alegando que, durante o decorrer da paralisação, aproximadamente 4 meses, assegurara, gratuitamente, as despesas do seu filho na cidade, já que a família reside em Fortaleza. A segunda, o proprietário do posto, argumentou-me que, desde que a greve fora decretada, estava tendo significativos prejuízos com as baixas vendas.

A minha resposta se desenvolveu, agora percebo, a partir de uma leitura prático-afetiva da ocasião, onde argumentei-lhes de forma interrogativa:

Não posso assegurar se a greve acabará hoje no CFP/UFCG, já que envolve uma ampla e profunda discussão sobre a reestruturação da carreira docente, mediada pela diretoria da ADUC, bem como se associa à análise da conjuntura local-nacional e dados oficiais do movimento grevista apresentados pelo ANDES (Sindicato Nacional). Entretanto, em termos financeiros, como os Senhores concebem o fato de eu estar pagando a conta de gasolina, em pleno início do mês, com o “cartão de crédito”? (Enfatizo, a opção não era débito automático e sim crédito!)

Se a discussão diz respeito única e exclusivamente ao financeiro, será que nós professores não temos enfrentado, ao longo dos últimos anos, sérios prejuízos pelas perdas salariais e problemas em qualidade de vida, inclusive de saúde, em face desta política de desvalorização profissional e arrocho salarial?...

Desde o início do ano venho quantificando... as contas de água e energia subiram uma média de 10%, o colégio dos meninos e o aluguel do imóvel em que residimos em Cajazeiras ano a ano aumentam 10%, além dos setores de alimentos, combustíveis, vestuários, entre tantos outros, cujos percentuais sequer sabemo-nos calcular...

Por que esses aumentos não se dão gradativamente, preferencialmente em doses homeopáticas distribuídas em três anos, seguindo a mesma lógica do Acordo apresentado pelo governo federal à categoria docente? (E olha que nem estou me detendo nos critérios de exigências e competências para progressão da carreira, já que a "escalada" é até mais árdua!...)

Não tenho qualquer constrangimento em anunciar que vivo, conjuntamente com a minha família, uma vida modesta, desprovida de excessos. Talvez, bem na contramão dos que idealizam o suposto “glamour” na/da carreira acadêmica... Minhas despesas mais significativas condizem à educação dos nossos filhos em Cajazeiras e com o filho universitário na cidade de Natal. Embora a universidade seja federal (UFRN), as condições para manutenção, como sabidas, não são. Porém, concebo estas ações não como gastos, e sim como "investimento de infraestrutura", segundo um teórico lucidamente elucidou.

E se disponho de certa acessibilidade à arte e à cultura tal realidade se deve, em grande medida, ao fato de o meu esposo, Marcus Vinícius, ser músico, o que me proporciona momentos de apreciação artística e sociabilidades. Da mesma forma, ao fato de ser uma leitora que, ainda não como gostaria, adquire livros. Além de aproveitar as possibilidades de leitura que se colocam acessíveis nas bibliotecas públicas e na internet.


Entretanto, sinto-me privilegiada. Evidentemente, não pelo valor da remuneração! Tampouco por integrar uma greve remunerada, como alguns cientistas políticos vêm alegando por aí!... Mas por entender que as atividades empreendidas pelo professor universitário contribuem para o desenvolvimento qualitativo e processual dos discentes, fato que comprovo pelas suas demonstrações diárias, ao enfatizarem a importância humana, intelectual e social da prática docente nas universidades às suas vidas e experiências, que se traduz nas formas de ensino, pesquisa e extensão.


Hoje, além do caloroso apoio de um expressivo grupo de discentes, na assembléia, à continuidade da greve (precisavam ver, o gesto foi de fato comovente!), ao sair do auditório, tive o prazer de me encontrar com uma das graduandas de pedagogia, Alzenira Cândida Alves, que apresentou recentemente trabalho científico no IV FIPED (Fórum Internacional de Pedagogia). Na conversa, a discente me transmitiu as palavras da Professora-Coordenadora do GT de Currículo, cujo conteúdo parabenizava-me pela qualidade na orientação de três trabalhos desenvolvidos na disciplina Currículo e Escola, cuja teorização e empiria, então materializados sob forma de artigos pelas graduandas e, igualmente, por mim orientados, foram bastante apreciados durante as discussões do GT.


Agora, voltando ao desfecho da greve, torço para que não tenhamos que nos dirigir até a exaustão para podermos deflagrar o seu término. Embora entenda que é preciso certa dose de serenidade para fazer surgirem os resultados das ações em curso.

De uma forma ainda que utópica, creio que os fins da educação dizem respeito à promoção de mais e melhor educação. Assim, a greve, como instrumento de luta e resistência de uma categoria, ainda que não vitoriosa em todos os aspectos, constitui processo de desenvolvimento humano. Se não numa perspectiva do paradigma produtivista/economicista - lógica que alguns burocratas do ensino têm defendido enquanto finalidade da educação contemporânea -, mas no sentido de entendermo-nos capazes de exercer a nossa condição de sujeitos de historicidade, que ultimamente - é importante considerarmos -, encontrava-se adormecida, muito embora trazíamos a compreensão, ainda que latentemente, que a construção do amanhã, incluindo "mais e melhor educação", depende das ações por nós empreendidas no aqui e agora.





  • Texto escrito em 12/09, após assembleia realizada no Centro de Formação de Professores, da Universidade Federal de Campina Grande (CFP/UFCG). Ofereço-o aos Graduandos de Pedagogia, cujas mediações fazem-me almejar e lutar por mais e melhor educação.
  • Fotos: Graduandos de Pedagogia em atividades de aula (CFP/UFCG). Acervo Pessoal, arquivos de celular.