As políticas educacionais e a mídia, em geral, têm constantemente enfatizado que, para alavancar o índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb), no Brasil, fazem-se necessários "bons professores".
Em discursos oficiais e diversos meios de comunicação, esquecem-se de privilegiar, hibridizam ou silenciam, que não há, no entanto, como se obter, concretamente, bons mestres, nos vários níveis e modalidades da escolarização, sem a devida valorização profissional docente.
Numa perspectiva crítico-social de educação, uma formação intelectual sólida (inicial e continuada), atrelada a condições dignas de trabalho, socialização e existência material dos sujeitos, envolve o processo de desenvolvimento integral humano.
Políticas públicas que desprestigiam investimento capital na profissionalização, em seus múltiplos aspectos e feições, se expandem híbridas. Configuram discursos difusos, fundamentados em velhos e novos signos, cujos interesses e intenções, por vezes contraditórios e confusos, colaboram para esvaziar o caráter transformador que deve permear as ações educativas.
Se pretendemos uma educação de qualidade para todos no século XXI, devemos, antes de tudo, desmistificar a docência. Enxergar o(a) professor(a) como um sujeito portador de historicidade. E não com um ser dotado de faculdades sobre-humanas, cuja maior qualidade reside na “doação de si”, através da expansão de valores altruístas.
Se queremos uma base consistente de formação para os(as) nossos(as) filhos e filhas, devemos igualmente ter em mente e, consequentemente, reivindicar dos órgãos responsáveis, a apropriação de investimentos nos(as) professores(as), donde a existência de vida e funções sociais de profissionalização, em síntese, requerem:
- saberes conceituais, procedimentais e atitudinais reflexivos, construtivos e sólidos, oriundos da articulação coerente entre fundamentos teóricos e valores da prática;
- remuneração justa que valorize os saberes/fazeres da docência/discência e que possibilite melhores vivências aos sujeitos;
- condições materiais de trabalho adequadas à construção de processos, conhecimentos e valores humanos.
Se “todo bom começo tem um bom professor”, pois que a transformação contemple a valorização ético-social e material do magistério. Investir na formação intelectual dos sujeitos, especialmente por meio de políticas que se baseiam exclusivamente nas demandas da economia e do mercado de trabalho para aumentar os níveis de exigências e competências da profissão, mas que, simultaneamente, ignoram as reais experiências dos sujeitos, não constitui necessariamente “política de reconhecimento” do magistério.
Pois que não há como se edificar boa casa, como clama a “canção” que ergue a bandeira da campanha “Todos pela Educação”, sem que, antes, se privilegie o alicerce... o(a) professor(a).
UM BOM PROFESSOR, UM BOM COMEÇO
A base de toda conquista é o professor
A fonte de sabedoria, o professor
Em cada descoberta, cada invenção
Todo bom começo tem um bom professor
No brilho de uma ferrovia
(um bom professor)
No bisturi da cirurgia
(um bom professor)
No tijolo, na olaria, no arranque do motor
Tudo que se cria tem um bom professor
No sonho que se realiza
(um bom professor)
Cada nova ideia tem um professor
O que se aprende, o que se ensina
(um professor)
Uma lição de vida, uma lição de amor
Na nota de uma partitura, no projeto de arquitetura
Em toda teoria, tudo que se inicia
Todo bom começo tem um bom professor
Tem um bom professor.
Sugestões de leitura:
- FREIRE,
Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes
necessárias à prática educativa. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
- LIBÂNEO, José Carlos. Adeus Professor, adeus professora?
novas exigências educacionais e profissão docente. 10. ed. São Paulo: Cortez,
2007.
- MACEDO,
I. B. Que queremos dizer com a educação para a cidadania? In: LOPES, Alice
Cassimiro e outros. Políticas educativas
e dinâmicas curriculares no Brasil e em Portugal. Rio de Janeiro: FAPERI,
2008.